O sonho de Willian José de disputar uma Copa do Mundo parecia ter acabado há pouco mais de um mês. No dia 9 de fevereiro, véspera do duelo com o Real Madrid, quando seria observado pela comissão técnica de Tite, o atacante da Real Sociedad sofreu uma fratura em um dedo do pé esquerdo. A previsão de baixa era de quase dois meses, o que praticamente deixava o centroavante fora dos planos do treinador. “Quando o médico falou que ia demorar entre 6 e 8 semanas, eu já tinha perdido as esperanças”, assumiu, em entrevista ao UOL Esporte.

A sorte de Willian José mudou na segunda (12), quando seu nome apareceu na lista de convocados para os amistosos contra Rússia e Alemanha. Uma convocação que surpreendeu ao jogador e a uma parte da torcida. Para Willian, as dúvidas em torno do seu nome são frutos de uma imagem que já não corresponde à realidade.

“As pessoas me criticam e julgam muito pelo que aconteceu quatro ou cinco anos atrás, né? Acho que ninguém parou para me acompanhar na Espanha desde que eu cheguei. Muita gente não tem oportunidade de assistir aos jogos”, afirma o atacante, que já marcou 17 gols em 30 partidas na atual temporada.

Enquanto vivia à margem das convocações no Brasil, Willian chegou a pensar em jogar pela seleção da Espanha. Ao UOL, ele disse que já havia sido elogiado pelo técnico Julen Lopetegui, e afirma que casos como o de Diego Costa ou Thiago Alcântara – deixados em segundo plano por técnicos brasileiros e hoje naturalizados espanhóis – também podem ter influenciado na decisão de Tite.

UOL Esporte: Como você recebeu a notícia da convocação?
Willian José: Eu tinha acabado de chegar em casa, depois do treino. A convocação era de manhã no Brasil. Cheguei e comecei a acompanhar. Minha mulher estava mais nervosa do que eu. Eu fui o último nome a ser dito pelo Tite, e aí foi uma alegria muito grande em casa, minha mulher começou a pular e a gritar, eu não sabia se ela tava chorando ou se estava gritando. Foi uma emoção muito grande, mesmo.

O Sylvinho (auxiliar de Tite) chegou a se programar para observar você, no jogo contra o Real Madrid, mas você se machucou pouco antes daquele jogo. O que você pensou ali?
Eu não estava acreditando. No outro dia teríamos o jogo contra o Real Madrid, e eu já tinha visto algumas matérias falando que o Sylvinho vinha me ver… E eu fiquei triste porque era uma oportunidade muito grande para mim. E depois que o médico me disse que eu ficaria fora entre 6 a 8 semanas, eu já imaginava ficar fora dos amistosos automaticamente. Depois daquela lesão o Sylvinho me chamou e falou que estava com a passagem comprada para ver o jogo contra o Real Madrid e o jogo seguinte, contra o Salzburg, pela Europa League. Ele falou que nao vinha mais porque eu tinha me machucado, mas disse pra eu continuar minha recuperação, recuperar bem, que eles iam continuar me observando e acompanhando quando eu voltasse a jogar e a treinar.

Depois disso tudo, você ainda esperava uma convocação?
Então, na verdade quando o médico me falou que ia parar de 6 a 8 semanas, eu já tinha perdido as esperanças. Já não acreditavam porque eu ia voltar muito em cima da hora, não ia dar tempo para a convocação. Mas eu voltei com 3 semanas, e aí eu comecei a pensar na possibilidade de ser chamado, no último jogo contra o Espanyol eu consegui fazer o gol. Voltar fazendo um gol foi muito importante para mim, e no outro dia recebi a notícia de que tinha sido convocado para a seleção brasileira.

Quais características de jogo você pode somar na seleção brasileira?
Aqui no Real Sociedad eu jogo muito de costas. E não fico só dentro da área, mas também saio para jogar, faço algumas tabelas com meus companheiros, já marcamos alguns gols em jogadas que eu saía da área para lançar. Eu tenho muito que aprender e que contribuir com a seleção brasileira do Tite.

O que evoluiu no seu jogo na Europa?
Algumas pessoas próximas a mim me falam que eu mudei bastante depois que saí do Brasil, falam que o nível do campeonato é muito alto. Aqui tem mais toque de bola, muita movimentação tática, acho que isso me ajudou bastante. Cheguei no Real Madrid Castilla, fui para o Zaragoza, fui me adaptando bem… E quando cheguei ao Las Palmas, comecei a jogar na primeira divisão. Fiz um bom campeonato, porque comecei a jogar no segundo turno e marquei 10 gols na temporada. Aqui na Real Sociedad está sendo maravilhoso pra mim, porque ano passado fiz 14 gols, neste ano estou com 17. É uma média boa, 17 gols em 30 jogos. Tenho que seguir melhorando a cada dia, trabalhando, seguindo forte, pra que eu possa garantir minha vaga na Copa.

Na Real Sociedad, você é um dos principais jogadores. Na seleção, você está chegando agora. Você está preparado para ser um jogador secundário nos planos do Tite?
Independente de ser secundário ou não, é a seleção do meu país. É uma seleção que tem grandes jogadores, muitos que são convocados há tempos pelo Tite, e eu estou indo pela primeira vez. Eu vou para contribuir com meus companheiros, sempre em busca de conseguir as vitórias. Nao sei como vai ser, mas quero lutar para conseguir meu espaço.

Existe um preconceito contra você?
Sim, com certeza. Até porque as pessoas me criticam e julgam muito pelo que aconteceu quatro ou cinco anos atrás, né? Acho que ninguém parou para me acompanhar na Espanha desde que eu cheguei. Muita gente não tem oportunidade de assistir aos jogos. Mas eu estou tranquilo, sei do meu potencial e do que eu posso contribuir para a seleção. Estou muito feliz, tentando melhorar a cada dia, lutando para melhorar.

Existia a possibilidade de você defender a seleção da Espanha. Você chegou a conversar com alguém da comissão técnica espanhola?
Não cheguei a conversar com ninguém, mas o presidente do clube falou comigo e me disse que conversava várias vezes com o técnico da Espanha (Julen Lopetegui) e que ele gostaria muito de contar comigo. Mas eu ainda nao tinha o passaporte espanhol. Mas acho que agora não tenho que falar da Espanha, porque fui chamado pelo Brasil e, para um jogador, ser chamado pra seleção do seu país é uma honra e um orgulho muito grande.

Nos últimos anos, a Espanha teve muitos reforços brasileiros: Diego Costa, Thiago Alcântara, o atacante Rodrigo, do Valencia… O fato de o Brasil ter perdido tantos jogadores para a Espanha pode ter alertado o Tite, para ele não perder você também?
Eu acho que sim. A cada dia nascem grande jogadores no Brasil que não têm a oportunidade de jogar pela seleção brasileira. Muitos jogadores querem jogar um Mundial, ou algum campeonato importante pela seleção, e acabam tendo a oportunidade com outra seleção e se naturalizam, né? Mas eu estava muito tranquilo, em nenhum momento disse que nao queria jogar pelo Brasil, até porque eu tinha um sonho muito grande de voltar à seleção, depois de tudo o que passei com a seleção sub-20, eu tinha que dar continuidade na seleção brasileira principal.

Você nunca disse que não jogaria pelo Brasil, mas você disse que era difícil ser convocado, porque os nomes não variavam muito. O que aconteceu?
Sim, eu falei isso. Falei que estava mais difícil ir para a seleção do Brasil porque já estava bem fechada, poucos jogadores mudavam. Nessa última convocação eu sou o único que não tinha ido ainda. É uma oportunidade muito grande para mim, é um prêmio pelo que estou fazendo aqui na Real Sociedad.

Algum novo companheiro de seleção já te mandou mensagem?
Falei só com o Casemiro. Joguei com ele no São Paulo, na seleção, e sempre que jogamos contra aqui na Espanha a gente conversa. Ele foi o primeiro a me ligar quando saiu a convocação.

Fonte: Uol Esporte