Recostado na casamata da Arena após o treino de sexta-feira, Marcelo Oliveira tem o semblante tranquilo. Está focado no jogo decisivo com o Veranópolis, este sábado, que vale classificação à semifinal do Gauchão.

O lateral-esquerdo, que divide com Maicon, Geromel e Edílson a liderança vestiário de Renato Portaluppi, atende a reportagem de ZH sem fugir a nenhuma pergunta. Fala o que pensa, sem papas na língua.

Contestado por parte da torcida, Oliveira não esquenta sua cabeça com as críticas. A partir delas, procura tirar lições para melhorar em campo. E, sempre que sai para jantar com a família, diz receber o carinho dos torcedores.

— A torcida do Grêmio me abraçou desde que cheguei. E hoje recebo muito apoio. Quando escuto ‘você é muito criticado’, não posso generalizar. Se não, daqui a pouco vou achar que não estou rendendo nada, estou mal, e aí começo a não render mesmo. Isso não me afeta, sei que não é geral — observa.

Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

O lateral diz que a concentração antecipada será importante para que o time não deixe escapar a conquista do Gauchão. Seu desejo é de repetir o discurso que mobilizou o grupo no ano passado, minutos antes de o time entrar em campo na Arena para decidir o título da Copa do Brasil. Desta vez, quem sabe, para que o Grêmio reconquiste, sete anos depois, a hegemonia do Estadual.

— A gente não pode esquecer o que passou para chegar onde está — salienta.

Como você explica esta liderança que exerce no vestiário?
É algo importante, mas a liderança não te faz jogar. Independentemente de você estar jogando ou não, isso é de cada um. A gente sabe que é importante no dia a dia, na situação boa ou na adversa. Não só a liderança, mas também a conversa com os companheiros. Nosso grupo tem vários líderes, isso é positivo para nós.

De que forma funciona o revezamento da faixa de capitão?
Na ausência do Maicon, o capitão tem sido o Geromel. A gente tem o Edílson, o Léo Moura, com sua experiência. Independentemente de quem carrega a braçadeira, a função de líder será feita. Sou muito tranquilo em relação a isso. Jogando ou não, vou fazer meu papel de líder para ajudar o grupo. Ninguém tem vaidade de carregar a faixa.

Com mais lideranças, a conversa no grupo flui melhor?
Às vezes, você tem um pensamento e seu companheiro tem outro. Isso te faz refletir melhor sobre o que ele está falando. Sempre tem que ter a conversa, essa liderança. Quando falo no vestiário, vem de coração, digo o que é necessário falar. A gente não pode esquecer o que passou para chegar onde está. Estamos em um clube gigantesco. Não podemos entrar no automático, fazer as coisas por fazer e pensar que é só mais um dia. Não, hoje é o dia, em que você tem que vencer e conquistar. Valorizar e fazer com amor sua profissão.

Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

Pelas críticas que recebe, você se considera um patinho feio da torcida?
Não me considero. Para eu me manter titular, sei o quanto me esforço. Não estou titular porque sou bonzinho ou porque tenho liderança no vestiário. Estou titular pelo meu trabalho. A partir do momento em que eu não estiver merecendo estar ali, com certeza vou estar sentado no banco.

Você se sente incomodado com as críticas?
Sei que vou ouvir críticas, é normal. Às vezes, ela é construtiva e te ajuda muito. E a partir do momento em que estou ali dentro, estou sujeito a tudo. Tanto que, no meu primeiro ano aqui, fui muito elogiado. Tive uma das melhores temporadas da minha carreira. A torcida do Grêmio me abraçou desde que cheguei. E hoje recebo muito apoio. Quando escuto ‘você é muito criticado’, não posso generalizar. Se não, vou achar que não estou rendendo nada, estou mal, e começo a não render mesmo. Isso não me afeta, sei que não é geral.

Estas críticas chegam direto para você?
Não fico acompanhando isso. Mas é claro que as coisas chegam. A gente vê o que falam, mas não fico procurando o que fulano ou sicrano falaram de mim. Só que, quando a pessoa fala, tem que ter convicção de que foi aquilo que aconteceu. Não pode aumentar. Estou trabalhando para me manter, não tenho cadeira cativa no campo. Sei que tenho que melhorar, assim como todos no grupo. Se você acomodar, vem outro e te atropela. Quando erro, tenho minha autocritica. Sei onde errei e onde poderia ter feito mais.

Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

Seu discurso na final da Copa do Brasil repercutiu muito. Foi planejado?
Foi de coração, na hora mesmo. Quando você fala de coração, diz a verdade. Independentemente se vai doer na outra pessoa ou não, você tem que olhar no olho e dizer a verdade. Naquele momento antes do jogo, começo a refletir em tudo, de onde vim, o que passei. Mas não falo para fazer média. Digo o que preciso falar. E acho que isso ajuda muita gente dentro de campo.

Você é muito próximo do Douglas. Como a lesão dele te afetou?
É muito ruim. Já passei por isso no Corinthians, em 2007, fiquei quase dois anos sem jogar por uma infecção hospitalar. Sei como é difícil. Mas tem que ter paciência e trabalho. A recuperação está excelente. Já está caminhando normal, ganhando força novamente. É esperar o tempo passar. Ele vai voltar bem.

O pedido de concentração antecipada realmente partiu dos jogadores?
No hotel, você tem alimentação regrada e descanso também. Tem muita gente que é pai recente, o bebê é novo, chora bastante na madrugada. Nos jogos decisivos, é importante este descanso para estar 100%.

O que o time precisa fazer para não deixar o título do Gauchão escapar?
No mata-mata, temos que ter muita atenção. Principalmente no primeiro jogo. Temos o exemplo da Copa do Brasil, que nos primeiros jogos a gente venceu e fez bons resultados. Claro que, se não for bem no primeiro, não está perdido o da volta. No ano passado, estava próximo. Mas perdemos para o Juventude lá e, aqui, acabamos eliminados pelo gol fora de casa que eles fizeram.