Artur terminou mais um dia de treino com o Red Bull Bragantino e foi andando, tranquilamente, para onde a reportagem do ge o esperava. Caminhava carregando o celular com uma capinha que imita a camisa da seleção brasileira, com o número 21 nas costas. É uma mostra que Artur carrega, literalmente, o sonho na palma das mãos.

– Deixo ali para, se eu me esquecer em algum momento, olhar e falar: “o objetivo é esse”. É para não sair da linha, sempre visualizar aquilo que almejo. Em casa, também deixo algumas coisas para também sempre ficar lembrando – destacou.

 

Artur, atacante do Bragantino, usa capinha do celular que imita a camisa que usou na seleção brasileira — Foto: Vinicios Oliveira/Red Bull Bragantino

Artur, atacante do Bragantino, usa capinha do celular que imita a camisa que usou na seleção brasileira — Foto: Vinicios Oliveira/Red Bull Bragantino

A camisa amarelinha com o número 21 foi utilizada pelo atacante em 2021, quando foi convocado para dois jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo. Vesti-la novamente neste novo ciclo da Seleção e ir para a Copa do Mundo de 2026 está nos planos de Artur. Mas há outros sonhos.

Aos 25 anos, o atacante também deseja atuar no futebol europeu. No início deste ano, recusou uma proposta de US$ 10 milhões de um clube do Catar para ficar em visibilidade para a Seleção e porque o desejo é estar na Europa. Quando questionado sobre as sondagens do futebol brasileiro, como do Flamengo, do Corinthians e do Vasco, ele ressalta que, quando sair do Bragantino, quer que o destino seja o futebol europeu.

– É um sonho meu, da minha família. Já deixei claro. A minha família já sabe muito que, às vezes, é até uma obsessão de jogar na Europa. Mas, como falo, para chegar lá temos que trabalhar muito aqui. Sabemos o nível que é para jogar na Europa. Então, temos que trabalhar demais para, quem sabe, ter a oportunidade – disse.

ge – O que espera desta temporada? Tanto em relação ao Bragantino como para sua carreira?

Artur: Expectativa boa. Início de um trabalho muito bom do treinador Caixinha, uma metodologia muito diferente do que estávamos acostumados no Brasil. A gente promete. Acho que vai ser uma temporada bastante boa para gente.

ge – Pensando na sua carreira, como vê este ano? Depois de 2022 com oscilações, quer tentar ser o Artur de 2021, em que você foi para seleção brasileira, vice-artilheiro da Sul-Americana?

Artur: Sim, claro. Acho que amadureci demais neste tempo que estou aqui. Já vivenciei de tudo, tive altos e baixos, o que é normal. A gente sempre busca evoluir. Trabalho no dia a dia para que as coisas aconteçam naturalmente, como foi no ano 2021. Trabalhei demais e deu tudo certo na temporada. Estou fazendo isso novamente. Treinando, treinando, trabalhando, trabalhando, que as coisas vão acontecer naturalmente.

ge – Por que foi tão bom 2021?

Artur: Foi um ano especial. Com certeza, uma das melhores temporadas da minha carreira. O trabalho do dia a dia, todo dia se esforçando, acabava o treino e estava trabalhando mais. É isso. O trabalho vence tudo. A gente sempre busca trabalhar mais e mais e se aperfeiçoar.

ge – Em 2022, teve também uma lesão que te tirou dos jogos por um tempo. Como vê essa última temporada?

Artur: Infelizmente, lesão estamos sujeitos a ter. Tive uma lesão de posterior de grau 3, que é grave. Nunca tinha sentido isso na minha vida de lesão de posterior. Senti ali, achei que não era nada, mas, quando vi, fiquei fora quase dois meses e meio. Foi difícil, mas trabalhei, fiz fisioterapia três períodos. Eu tinha um fisioterapeuta, que é amigo meu, que também fazia comigo à noite. Voltei forte, mas um pouco abaixo daquilo que eu esperava. Mais pelo fator psicológico mesmo, como medo de abrir novamente e passar por tudo aquilo novamente. Que bom que deu tudo certo. Estou 100%.

ge – Uma novidade neste ano é você assumir a camisa 10. Como encara isso?

Artur: Eu gosto. Gosto dessa responsabilidade. Trabalho muito para isso. A camisa 10 é um feito no futebol, que todo mundo fala que a 10 é sempre diferenciado. Estou muito feliz por estar vestindo a camisa 10 do Red Bull Bragantino. É um feito muito grande para a minha carreira, para minha família. Todo mundo ficou muito feliz.

Artur assume a camisa 10 do Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino

Artur assume a camisa 10 do Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino

ge – No começo desta temporada, você recebeu uma proposta do Catar de US$ 10 milhões. Por que recusou?

Artur: Foi uma decisão que não posso dizer que foi fácil. Foi difícil, claro que financeiramente era muito bom. Mas sentei com a minha família, com o meu staff todo e conversamos. Preferimos ficar aqui. Como falei, me sinto muito em casa, me sinto muito à vontade aqui. Quero muito voltar para a Seleção, disputar novamente uma final de Sul-Americana. Então, acho que o sonho de estar aqui ainda continua, o foco ainda está todo aqui. Espero voltar aquele ano de 2021 novamente.

ge – Você fala em seleção brasileira. Agora vai começar um novo ciclo da Seleção. Seu objetivo, provavelmente, é estar nele, né?

Artur: Com certeza. Um objetivo, um sonho. A cada dia que trabalho, o tanto que eu treino, eu fico pensando no meu objetivo, que tenho que alcançá-lo, que tenho que trabalhar demais, me aperfeiçoar mais e mais para que eu possa ter bons jogos, bons números e, quem sabe, ter essa oportunidade, essa responsabilidade enorme que é disputar torneio. Só de ir já é gratificante.

ge – Você ter colocado a capinha do celular com o seu número na seleção é uma forma de ficar constantemente lembrando deste objetivo?

Artur: Isso. Já deixo ali pra, se eu me esquecer em algum momento, eu olhar e falar: “o objetivo é esse”. É para não sair da linha, a gente sempre visualizar aquilo que almeja. Em casa, também deixo algumas coisas para também sempre ficar lembrando.

Capinha do celular do atacante Artur, do Bragantino — Foto: Vinicios Oliveira/Red Bull Bragantino

Capinha do celular do atacante Artur, do Bragantino — Foto: Vinicios Oliveira/Red Bull Bragantino

ge – Como vê as suas chances na Seleção? A sua posição está bem disputada. Na Copa do Mundo, por exemplo, foram vários atacantes.

Artur: A gente sabe da qualidade de todos os jogadores. Para estar na seleção brasileira, tem que ter muita qualidade. É histórico isso. É uma disputa muito boa. Isso me faz trabalhar mais e mais ainda para conquistar meu espaço. É trabalhar mais ainda no dia a dia. Vejo os jogos dos atacantes e sempre procuro trabalhar para igualar os números, fazer mais e mais.

ge – Acha que é possível estar na Seleção, ser convocado mais vezes, atuando aqui no Bragantino ou acha que precisa ir para Europa para ter mais chances?

Artur: Claro que dá. Um exemplo foi em 2021, quando fizemos uma bela campanha e minha primeira vez na seleção profissional foi com o Red Bull Bragantino. Mas falta fazer aquele feito que fizemos (risos). Mas claro que, com os pés no chão e trabalhando, com certeza vamos chegar.

ge – Lembro que quando você chegou ao Bragantino, disse que um dos seus objetivos era ir para Europa. É normal, muitos jogadores têm esse sonho. Você ainda mantém esse desejo de ir para lá?

Artur: Sim, claro, com certeza. É um sonho meu, da minha família. Já deixei claro. A minha família já sabe muito que, às vezes, é até uma obsessão de jogar na Europa. Mas, como falo, para chegar lá temos que trabalhar muito aqui. Sabemos o nível que é para jogar na Europa. Então, temos que trabalhar demais para, quem sabe, ter a oportunidade de jogar na Europa.

Artur no vestiário do Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino

Artur no vestiário do Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino

ge – Você tem um prazo definido para ir para lá? Pergunto isso porque há aquilo que dizem do jogador “ficar velho para Europa”…

Artur: Não. Não penso nisso. A gente sabe, claro, que a idade vai chegando e vai dificultando mais. Mas um exemplo muito claro é o (Gustavo) Scarpa. Não é tão novo e está disputando uma Premier League. É um jogador de alto nível, que convivi com ele. Acho que é isso aí. Pelo belo trabalho que ele fez pelo Palmeiras, ajudou bastante ele a ir. Acho que é isso. É trabalhar, focar aqui, que as coisas vão acontecer naturalmente.

ge – Para sair daqui, seria somente para Europa? Porque recentemente houve sondagens de clubes brasileiros, como Flamengo, Corinthians, Vasco… O que diz dessas sondagens de clubes aqui do Brasil?

Artur: Recebo muitas mensagens no Instagram sobre isso, de sondagem. Mas meu foco total é aqui no Red Bull Bragantino. Meu objetivo também, claro, é de primeira opção ir para Europa, pelo sonho que venho construindo desde a minha infância com a minha família. Então, a primeira opção é essa. Mas, como falei, o trabalho é o que pode dar essa oportunidade.

ge – Como avalia a sua trajetória no Bragantino? Após sair do Palmeiras, você chegou aqui em busca de mais espaço…

Artur: Acho que é uma trajetória bonita. Venho construindo bastante coisas boas aqui no Red Bull Bragantino, venho ajudando bastante, não só ofensivamente, mas defensivamente também. Me aperfeiçoei demais nisso, que eu pecava um pouco. Chegar a uma inédita final de Sul-Americana acho que foi um feito importante para o clube, chegar na Libertadores também, que ajudei também. Foram feitos grandes. Espero escrever essa história mais para que sejamos campeões de uma dessas competições.

ge – Você veio do Palmeiras. Como foi a sua passagem lá? Sente que faltou mais espaço lá para você?

Artur: Quando falo sobre o Palmeiras, sempre falo com muita gratidão pelo clube. Cheguei muito novo lá. Era muito imaturo, sozinho, de base. Fomos construindo, eles me ajudaram bastante. O ano que estava lá, que subi para o profissional, sabíamos da qualidade de todos os jogadores que estavam lá. Muitos jogadores bons e eu novo ali. Acabei me lesionando duas vezes. Perdi completamente o espaço. Jogador tem que jogar, né? Então, fui emprestado para o Londrina e consegui jogar. Fui emprestado para o Bahia… Jogador, para ser visto, precisa estar jogando. Juntamente com a minha família, a gente viu a oportunidade de vir para o projeto do Red Bull Bragantino e ter sequência de jogos. Estamos muito felizes de estar aqui.

ge – Antes de vir para cá, você fez uma boa temporada pelo Bahia. Você tinha a expectativa de ter mais espaço na volta ao Palmeiras?

Artur: Fui com a expectativa de ir para o Palmeiras e jogar. Até estava tudo certo para a minha volta para o Palmeiras. Mas daí chegou o projeto do Red Bull, falou com os meus dirigentes, com a minha família, apresentou todo o projeto. Achamos que esse projeto era para mim, realmente. Adoramos o projeto e estamos muito felizes aqui. Cidade tranquila, a minha família ama estar aqui e eu também.

ge – Sobre o projeto do clube, você chegou aqui em 2020 e foi acompanhando toda a evolução. Como você avalia a evolução dele?

Artur: Sempre quando falam de projeto, eu enfatizo muito a organização. A organização daqui eu nunca vi igual. Em tão pouco tempo de projeto, já fizemos esse feito grande de chegar à final da Sul-Americana, estar na Série A, disputar uma Libertadores e, de novo, disputar uma Sul-Americana outra vez. Acho que é um projeto muito consolidado já no futebol brasileiro. Tanto que conseguimos enfrentar qualquer equipe de igual para igual.

ge – Após pouco mais de dois anos com o Barbieri, agora vocês estão sob o comando de Pedro Caixinha. Como tem sido este começo de trabalho com ele?

Artur: São duas características completamente diferentes. Quando o Barbieri chegou, estávamos em um momento bem delicado, na zona de rebaixamento, e ele conseguiu resgatar a nossa equipe, o alto astral que estava faltando. A gente estava meio pra baixo, ele conseguiu conquistar todos os jogadores e conseguimos até pegar a Sul-Americana. É um trabalho totalmente diferente um do outro, são características diferentes. O Pedro já é aquele treinador bem europeu, pede muita intensidade, marcação encaixada… Uma coisa que é muito interessante e sempre falo é que pós-jogo a gente faz bicicleta. Nunca tinha visto isso na minha vida. A gente faz bicicleta. A gente já começa ver por aí o trabalho totalmente diferente.

ge – Pra você, o que ele pede? Ele pediu algo diferente para você fazer em campo?

Artur: Estou atuando mais pelo meio. Com o Maurício, ele me dava mais liberdade para jogar bem aberto. Com o Pedro, o ponta fica mais por dentro e os laterais abrem mais. São características diferentes. Estou me adaptando, porque antes jogava mais de fora para dentro. Agora, literalmente, já estou dentro do campo, mais no meio. Estou pegando aos poucos. A temporada começou muito boa para nós. Espero que a gente consiga colher os frutos de um bom trabalho.

ge – Alguns jogadores já foram poupados no Paulista e você jogou todos. Sinal que está bem fisicamente, né?

Artur: Estou 100%. Todo jogo quero jogar, quero ter mais jogos aqui. A preparação foi maravilhosa, juntamente com o staff do Pedro. Sabemos que é intensidade a todo momento. Nas férias, em dezembro, seguimos trabalhando também. É o trabalho que está sustentando.

ge – Este ano vem algum título do Bragantino?

Artur: É um sonho, um objetivo nosso. Queremos ser campeões de alguma competição. Acho que o mais próximo da gente, que estamos disputando, é o Campeonato Paulista. É ir jogo por jogo, sempre pensar no próximo jogo como uma final. Com certeza, estamos sonhando com o Campeonato Paulista.

ge – Você é um dos mais antigos aqui e, com isso, é um dos líderes do elenco. Como lida com isso?

Artur: Por mais que eu seja novo, aqui tem mais jogadores mais novos que eu. A maioria. Com o tempo, vamos amadurecendo, vendo qual o caminho que temos que trilhar. Falo com os mais novos: “olha, tem que ser por aqui, por ali, faz isso aqui…”. Quando eu tinha a idade deles, era do mesmo jeito. Era muito ansioso, queria terminar o trabalho o mais rápido possível, de qualquer jeito. Com a idade chegando, com a experiência de treino, a gente vai vendo que não é por aqui, que é melhor ir por aqui. De vez em quando, damos uns puxões de orelha nos mais novos e também nos mais velhos (risos).

ge – Essa versão 2023 do Artur então podemos dizer que deseja o futebol de 2021 e a maturidade de 2023, né?

Arrtur: Com certeza. Quero fazer até melhor que 2021. Sempre falo: “tenho que fazer melhor”. Quero melhorar os números que fiz em 2021. Agora mais maduro, estou aprendendo a cada dia.

ge – Quais são seus sonhos?

Artur: Disputar uma Copa do Mundo com a seleção brasileira. É meu sonho, meu objetivo.

ge – A Copa de 2026 é sua meta então?

Artur: É um objetivo. Parando para pensar, 2026 é longo prazo. Mas, para mim, começa a preparação agora, de dia a dia, de trabalho. Acho que essa é mentalidade que estou tendo.

ge – Em 2022, você chegou a pensar que teria chance ou nem esperava mesmo ser convocado para Copa?

Artur: Difícil, difícil. Principalmente por todos os fatores. Acho que o time já estava ideal daquele jeito, já estava encaixado, estava ganhando tudo. Mas, claro, a gente tinha um sonho. Se acontecesse alguma coisa, eu estava ali, trabalhando. Mas agora é um sonho para 2026.

ge – A seleção brasileira está sem técnico. Você tem acompanhado a escolha, até por questão do estilo do treinador para ver se encaixa com o seu?

Artur:
Estou de olho. Não só eu, mas grande parte da população brasileira está aguardando. Com certeza, eles vão tomar a melhor decisão para comandar esta história tão grande que é a seleção brasileira.

Fonte: GE