São apenas 21 anos e três convocações pela seleção brasileira, a última delas para as duas próximas partidas das Eliminatórias, contra Equador e Paraguai. Mas Rodrygo sonha grande. Em alta junto com os companheiros de Real Madrid e amigos Vini Jr e Éder Militão, o jovem revelado pelo Santos encara a arrancada final para a Copa do Mundo no Catar como meta de vida.

– Não vou mentir, não tem como, um dos principais objetivos desse ano é estar na Copa do Mundo. Você vê alguém falando de Copa do Mundo e já dá um arrepio – contou o jogador, em entrevista ao ge.

Num papo de quase meia hora, o atacante lembrou da chegada a Madri, contou como o técnico italiano Carlo Ancelotti o ajuda com boas doses de sinceridade no dia a dia e falou da ansiedade pela Copa.

Confira a entrevista com Rodrygo:

ge: Como foi receber a notícia de voltar à seleção depois de um ano e meio sem ser convocado? Criou expectativa pelo momento no Real ou nem tanto pela forte concorrência?
Rodrygo: – Foi um pouco dos dois. Tem uma concorrência grande, você fica naquela dúvida. Será que vai ou não, mas por estar no Real Madrid, por fazer um bom trabalho, você fica assim, “bom, tenho chances também”. Eu vi a convocação, mas eu quase nunca vejo, porque a convocação sempre é de tarde aqui em Madri e eu estou dormindo. Só que a gente estava na Arábia Saudita, disputando a Supercopa. Lembro que a gente ia para a academia e ia começar a convocação um pouquinho antes. Coloquei lá, fiquei assistindo, “ah, vamos ver né. Vai que (risos)”. Tinha aquele 50% de esperança, mas pensei “nem vou criar esperança”. Mas na hora que foi meu nome fiquei muito feliz de poder voltar à seleção brasileira. Feliz pelo momento de poder voltar ao Real Madrid e espero crescer a cada dia.

Você está na terceira temporada, fez 33 jogos na última, já tem 25 nessa. Você consegue dimensionar os estágios que você viveu desde que chegou ao Real? É passo a passo?
– O começo é sempre um pouco mais difícil, mas ainda consegui ir muito bem no começo, todo mundo falou. Eles tinham plano para eu começar a ir para os jogos mais para frente e eu fui bem no começo, muito antes do esperado. E a velocidade da bola, a qualidade técnica dos jogadores, acho que quando estamos no Brasil a gente meio que fecha os olhos. A gente vê, mas não quer ver, muita gente ainda compara, fala que não tem diferença, mas a gente sabe que aqui na Europa a gente joga como se fosse um outro esporte do que se joga no Brasil.


Pode exemplificar no que você sente tanta diferença?
– É muita diferença em tudo, é questão de gramado, dos jogadores, de tudo. Os jogadores são muito mais técnicos, muito mais rápidos, muito mais fortes e eu tive que me adaptar com isso. E claro que no começo é um pouco difícil, mas tive muita gente me ajudando, os jogadores que estavam aqui há mais tempo me ajudaram bastante, sempre conversaram comigo. E tive começo sensacional pelo Real Madrid, tanto na pré-temporada como na minha estreia oficial fiz gol nos jogos. Depois já estava jogando na Champions, então tive começo muito bom. Mas claro que a adaptação é difícil. Acho que até hoje estou pegando.

E a adaptação fora de campo, já conhece bem Madri?
– Para mim, posso falar que foi um pouco mais fácil, porque a cidade aqui em Madri é muito boa. Eu sou de São Paulo, não sou de Santos, e achei um pouco parecido com São Paulo. Então tem tudo aqui, posso fazer tudo que quero, encontro as coisas muito fácil. Tem muito brasileiro morando na cidade, trouxe a minha família para morar junto comigo, então as coisas ficaram mais fáceis. Os brasileiros do time também tudo que eu precisava me falavam. “Ah, preciso comprar tal coisa, onde posso ir?” Eles me ajudavam, me falavam onde era, então ficou mais fácil. Acho que a única coisa que tive dificuldade foi o clima mesmo, o frio que no Brasil não é acostumado. E quando chegou o frio aqui pegou um pouquinho, até no jogo quando você vai entrar em campo seu pé está todo duro, todo gelado. É um pouco diferente do que a gente está acostumado, mas pouco a pouco assim você vai pegando.

Os brasileiros são bem unidos aí? Saem junto, frequentam casa um do outro? Como é a relação?
– Bastante, a gente passa a manhã toda junto, a gente fica o tempo todo junto, às vezes de noite, um dia de folga, sai para jantar, frequenta a casa do outro. Somos bem unidos. Todos moramos próximo, bem perto assim do outro.

Qual importância de chegar e encontrar Vinicius, que passou por processo bem parecido com o seu?
– Relação é muito boa, o Vini me ajudou muito, acho que ele chegou um ano antes, quando estava no Santos eu falava com ele, perguntava como eram as coisas aqui e ele sempre me falou tudo, sempre me ajudou. E quando cheguei na pré-temporada só estava eu, ele e o Marcelo e desde o primeiro treino foi um cara que me ajudou bastante. A gente tem relação muito boa, a gente é bem amigo mesmo. Fica o dia todo ali junto e com certeza ele me ajudou bastante e sou muito grato por tudo que ele fez desde a minha chegada.

É com quem você tem mais intimidade entre os brasileiros?

– Pode ser, mas a gente fica bem junto os cinco, nós cinco, é difícil falar um, mas por sermos quase da mesma idade, termos passado pelo mesmo processo pode ser sim que com o Vini eu tenha mais intimidade, mas eu tenho muita intimidade com os outros também. É uma relação muito boa.

Vocês jogaram juntos na seleção de base e quando um era chamado o outro não estava. Como foi agora vocês se encontrarem?
– Sim, sim, a gente sempre falou isso, agora quando fui convocado, ele falou: “Até que enfim, achei que a gente nunca ia jogar junto na seleção brasileira”. A gente tinha essa meta aí, jogamos juntos na seleção de base, no Real e agora faltava a seleção principal. Agora vai acontecer, graças a Deus.

Marcelo e Casemiro, muito mais experientes, fazem mais o tipo paizão de vocês?
– É uma relação de pai e filhos assim. Eles são paizões para a gente. Eles puxam a nossa orelha quando a gente faz alguma coisa fora da linha assim. Eles estão sempre ali para ajudar a gente, tanto dentro quanto fora de campo. A gente para para escutar, porque são dois caras que ganharam tudo aqui. Marcelo também chegou, como eu e Vini, com 18 anos, chegou muito cedo, então tudo que a gente está vivendo ele já viveu muito tempo atrás. Então ele sabe como funciona, isso que ele passa de experiência para a gente. O Casemiro chegou um pouco depois, mas também ganhou tudo aqui. Então sempre que esses caras param para falar a gente tem que parar para ouvir o que eles têm a dizer e passar de experiência para a gente. Isso tem nos ajudado muito aqui.

Zé Roberto uma vez disse que o maior choque na chegada ao Real é no momento que entra no vestiário, quando viu Roberto Carlos, Raul, Seedorf, Redondo e cia… Foi assim para você?

Para mim foi assim também. Era meio estranho, porque eu chegava e olhava, “pô de um lado está o Sergio Ramos, do outro está o Benzema, do outro lado o Modric”. Pô, estava jogando com os caras no videogame há pouco tempo atrás, só tinha visto os caras ali e do nada estou de frente com os caras, estou conversando com eles. Era um pouco estranho, a ficha não caía. Foi bem diferente, mas é uma experiência bem legal, até hoje às vezes eu olho assim e está o Kroos na minha frente, Modric. É bem legal. Jogar com Hazard, é uma experiência muito boa.

Qual jogador mais te impressionou no seu time ou até mesmo entre os adversários?

– O Modric com certeza, eu sempre falo com todo mundo que ele é o melhor jogador que eu vi jogar. Que joguei. De ver. Às vezes não sei, não sei como é para vocês o verem da TV, claro vocês devem pensar “o Modric é muito bom”, mas quem vê de perto, quem vê do campo vê que ele é muito mais do que isso. Ele é muito, muito, muito bom. Um cara que me surpreendeu bastante, que eu sabia que era bom, mas quando vi ele jogando falei: “esse cara é perfeito”. Parece que ele não erra, é diferente mesmo.

Neymar está nesta lista de cara que te impressiona?
– Ah, Neymar nem entra na lista (risos). Nem preciso falar, não dá para ficar elogiando Neymar, nem precisa, todo mundo já sabe. Acho que o Modric seria mais uma novidade. Neymar é como se fosse fora da lista assim.

O que pode contar do Ancelotti? Como ele desenvolveu vocês? O que pode exemplificar?
– Ele tem muita experiência, acho que isso todo mundo já sabe. A forma como ele trata os jogadores, de conversar sempre bastante. No meu caso, assim, o que mais gosto dele é que se não jogar bem ele chega e fala: “Você não jogou bem, você fez merda nisso, naquilo, mas foi bem aqui, ali e aqui”. Isso para mim, que tenho só 21 anos, que estou crescendo ainda, me ajuda bastante. Ele tem feito isso comigo. E acho que ele fez isso com muitos jogadores. Já conversei com ele também, ele conta: “Já treinei muitos brasileiros, já falei isso para aquele, para o outro”. Ele tem muita experiência e sempre que ele para para falar a gente escuta porque ele ganhou tudo e vai continuar ganhando tudo pelo trabalho excepcional que ele vem fazendo.

O diferencial dele é passar confiança? Do tipo que se você jogar mal, ele não te tira com frequência.
– Ele passa bastante confiança, mas isso de tirar, depende, porque tem jogo que ele precisa tirar. Tem jogo que ele tem uma estratégia, em outro tem outra. Tem jogo em que tem outra, tem jogo que você vai ser muito importante para o esquema que ele quer e tem jogo que não. Então vai muito de jogo para jogo. Mas é um cara que na conversa ali, no outro dia, pós-jogo, independentemente se você for jogar o outro jogo ou não, a conversa que ele tem ali já absorve. E ganha mais confiança, mesmo saindo jogando ou que seja para entrar depois.

O que mais considera que ele desenvolveu no seu futebol?
– Acho que tudo um pouco. Quando me perguntam o que tenho que melhorar, sempre falo que preciso evoluir em tudo. Seja atacando ou defendendo, preciso evoluir em tudo. Uma das coisas que ele sempre me cobrou bastante é a parte defensiva. Eu sei que você é bom com a bola, sei o que você pode fazer, mas você tem que me ajudar também defensivamente. Aí uma das coisas que eu tenho focado em melhorar todos os dias. Aqui na Europa, a gente sabe, não tem como só atacar. Se só atacar seu time vai ficar com um a menos para defender e todos os times têm qualidade, você vai sofrer e seu time vai perder os jogos. Um que não marca já faz muita diferença. Foi uma das coisas que me fez crescer, evoluir. Claro, estou evoluindo a cada dia, espero seguir crescendo, mais e mais.

Você foi para a seleção nos amistosos na Arábia Saudita. Teve uma primeira convocação em 2019 e a segunda em 2020. Mudou muita coisa nesse Rodrygo que volta hoje?
– Com certeza, cada ano eu melhoro, espero melhorar a cada ano, é como trabalho, para ser melhor a cada ano. Com certeza sou um Rodrygo diferente, assim, com a mesma vontade de vencer de sempre, com as mesmas características, mas com certeza mais inteligente, mais maduro, acho que a idade, o tempo aqui, vai só acrescentando na minha carreira, em tudo que eu tenho para fazer no futebol.

Li no “As” que você ganhou massa muscular, que você fez um plano especial durante a pandemia com preparador físico pessoal. Como foi isso? Quantos quilos ganhou?
– Ganhei três quilos. Eu tenho academia aqui em casa e fiquei confinado, sei lá, 90 dias sem sair de casa, não tinha mais nada para fazer. Eu treinava, treinava, treinava, ia ficando mais forte, ganhando massa, ganhando peso, claro que tudo controlado. Quando voltei estava bem mais forte do que quando cheguei. E isso me ajudou bastante, a gente sabe que aqui na Europa quanto mais forte, quanto mais rápido você for, mais você está na frente dos outros. O futebol hoje em dia é assim, muita força, muita velocidade. Quanto melhor você for nesses dois, você sai na frente dos outros. Foi uma coisa que procurei evoluir.

Deu para botar bronca no Casemiro, no Sergio Ramos?
– Aí é difícil, é difícil, já não dá não (risos). Melhor não dividir a bola com eles, deixa, deixa eles saírem com a bola, que é mais complicado.

Antes se ouvia muito sobre ganhar massa e perder agilidade, drible. Você sentiu algo sobre isso?
– Acho que depende, se você faz o trabalho direito, com tudo programado. Assim, “olha, você vai ganhar tudo isso de peso, mas você vai ficar mais rápido nisso, naquilo”. Se você faz tudo programado, certinho, você só melhora. Agora, se você faz por fazer, vai para a academia só para ficar puxando ferro, por puxar, só para ficar forte, isso não vai te acrescentar em nada. Você vai perder sua mobilidade, toda velocidade, que no meu caso é o meu forte. Então isso tudo é controlado, no meu caso é o “personal” que está comigo desde os meus 13 anos, conhece meu corpo como ninguém. Eu fui ganhando peso gradativamente e claro para não perder o que tinha de melhor. Que era minha velocidade, minha mudança de direção, minha agilidade.

Em 10 meses começa a Copa do Mundo. Como isso mexe com a sua cabeça? É uma meta ou você deixa acontecer?
– Normalmente eu sou dos caras que deixa acontecer, mas acho que nessa todo mundo tem, como meta estar na Copa do Mundo. Não vou mentir, não tem como, um dos principais objetivos desse ano é estar na Copa do Mundo. Você vê falando de Copa do Mundo e já dá um arrepio. Uma sensação diferente e é com certeza a competição que vou trabalhar o ano inteiro para poder estar lá.

Como vê a disputa entre os atacantes da Seleção por vaga na Copa?
– Acho que é a posição mais concorrida. O ataque da seleção brasileira sempre é a posição mais concorrida. Sempre tem a concorrência muito grande, na minha vez não vai ser diferente. Mas é o que tem pela frente, vamos trabalhar para ter oportunidade. Quando tiver agarrar e não sair mais.

Qual diferencial que você enxerga para te colocar em vantagem nessa disputa?
– Acho que meu desempenho no clube, estar no maior clube do mundo. Acho que se você está no Real Madrid e jogando bem, você tem tudo para estar na Seleção. Você está numa liga muito forte, joga no maior clube do mundo e você está bem isso pesa bastante para estar na Seleção. Mas claro que tem que demonstrar dentro de campo. Não adianta só estar no Real Madrid, não estar jogando ou estar jogando mal, porque não dá em nada. Mas claro que estando no Real Madrid e jogando bem isso me dá uma grande chance de estar na Copa do Mundo.

Queria saber se é seu sonho também ganhar o prêmio de melhor do mundo. É sua meta?
– Acho que esse sonho todo mundo tem, mas não é algo que eu paro para pensar. Entendo que isso vem naturalmente. Se a cada ano eu melhorar, fizer grande temporada com muitos gols, muitas assistências, isso vai ser natural, mas meu foco é a cada dia ser mais importante para minha equipe. E lá na frente isso vem, mas não é uma coisa que coloco como maior na minha meta assim na minha vida. Hoje a maior meta da minha vida é ganhar tudo com o Real Madrid e continuar na seleção, ganhar a Copa do Mundo com a seleção, sei que isso pode vir naturalmente. É um sonho para todo mundo. Todo mundo um dia quer ser o melhor do mundo. Eu tenho minhas metas coletivas com o clube, porque sei que isso vai agregar para as metas individuais.

Torcida, imprensa, muita gente alimentou o sonho de um brasileiro voltar a ganhar bola de ouro. E o Neymar sempre foi colocado. Acha que Neymar ainda vai conseguir?
– Ah, espero, a gente torce para que sim. Se ele tiver temporada sem lesões, infelizmente é o que tem atrapalhado ele. E toda vez que ele não teve lesão, que ele esteve em campo, ele levou time dele para final de Champions, jogou muito e a gente sabe a qualidade que ele tem. A gente torce muito por ele. Se ele tiver temporada sem lesões com certeza ele vai estar brigando pelo título de melhor do mundo. Vamos continuar torcendo e ajudando ele de alguma forma também.

Já dá para imaginar esse confronto com Neymar, Messi e Mbappé, em fevereiro e março, pela Liga dos Campeões?
– São jogadores que admiro muito. Infelizmente (risos) temos que enfrentá-los agora. Não é o que a gente queria, mas é o que vem pela frente. Estamos focados, mas temos jogos antes ainda. Estamos preparando bastante para chegar cada dia melhor nessa decisão que vai ser contra eles.

Fonte: GloboEsporte.com