Diego Costa, de 26 anos, vive uma nova fase de sua carreira desde julho de 2024. Após nove temporadas com as cores do São Paulo, incluindo categorias de base, o zagueiro tomou a decisão de migrar para o futebol russo.
Apesar da distância de mais de 11,7 mil quilômetros entre as cidades de São Paulo e Krasnodar, o defensor sul-mato-grossense não teve tempo a perder quando desembarcou no leste europeu. Para lidar com os embates de um jogo bastante físico, contou com o apoio de nutricionistas do clube e saiu dos 75 kg para os 80 kg.
“Fiquei mais rápido, mais forte, e foi um ano em que eu evoluí muito no futebol. Então, acho que eu fiz uma boa escolha em ter vindo para cá. Consegui jogar, e, graças a Deus, a gente conseguiu consagrar esse ano maravilhoso com o título. Acho que foi tudo perfeito”, diz em conversa exclusiva com o Terra.
Em um pouco mais de um ano, ele disputou 37 partidas e foi peça importante no título inédito do Campeonato Russo. Essa sequência foi justamente o que o motivou a deixar o time que foi sua casa desde a adolescência. Após uma rápida ascensão, virar titular do São Paulo em 2020 e capitão em 2022, o defensor sofreu uma lesão no joelho esquerdo pouco depois da final da Sul-Americana, também em 2022.
Inicialmente, o problema parecia simples, e a opção foi por um tratamento mais conservador. O método, porém, não apresentou resultados e, no fim do mesmo ano, o zagueiro teve que recorrer ao procedimento cirúrgico.
Passado o período de recuperação, Diego retornou aos gramados em abril de 2023. Neste momento de recomeço, o zagueiro até participou do jogo da final da Copa do Brasil contra o Flamengo. Mas não conseguia se sentir bem dentro de campo, até que, na metade de 2024, após cerca de um ano de incertezas, a saída para o Krasnodar foi a solução para se reencontrar.
“Naquele momento, pensei que eu precisava de minutagem. Isso [lesão] me tirou do campo e, no momento que eu voltei, a gente foi campeão ainda, só que eu não me sentia bem. Não estava me sentindo tão confiante, eu poderia estar num nível melhor. Naquele momento, o Krasnodar foi a opção que apareceu. Eu gostei bastante do projeto que eles me apresentaram. Foi isso que encheu meus olhos. O CT deles é um dos melhores do mundo. Então, o trabalho, a estrutura que eles têm, que me ofereceram, foi o que me abriu o olho”, conta.
Após cerca de um ano no país, o esperado aconteceu para o zagueiro. Mesmo em um calendário com menos jogos, ele viveu sua segunda temporada com mais minutos em campo: 2.731, atrás apenas dos 4.118 de 2022.
Na Rússia, Diego precisou lidar com algumas adversidades, além das trombadas dos atacantes adversários. As baixas temperaturas, por exemplo, chegaram a colocar medo no brasileiro, mas só no início da trajetória no país.
“Quando cheguei aqui, achei que um dos meus piores medos seria o frio. A gente chegou a jogar em -12°C. Só que, graças a Deus, foi uma das partes mais tranquilas. De todas as dificuldades possíveis, a menor delas foi o frio. Meu corpo se adaptou muito bem”, continua.
Para o zagueiro, ter chegado novo ao país facilitou essa adaptação fora de campo. Além da facilidade com o clima, ele conseguiu enfrentar com tranquilidade a barreira linguística. Algumas vezes, é claro, recorre ao inglês para se virar.
“Comecei a me adaptar com a língua, sei falar algumas palavras já. Também tem os tradutores em inglês no clube que me ajudaram. Já me sinto bem adaptado, me sinto feliz aqui onde eu estou. Quando a gente vai ao restaurante, vai ao mercado, essas coisas simples, eu consigo [falar russo], mas para ter um diálogo assim extenso é quase impossível”, explica sobre a comunicação no país.
Sem os problemas que costumam afetar na adaptação de outros jogadores, Diego conseguiu desempenhar bem e formou dupla de zaga com um outro atleta revelado pelo São Paulo: Vítor Tormena, três anos mais velho.
“Eu me lembro dele lá no clube, na base do São Paulo. A gente não chegou a atuar juntos, porque éramos de idades diferentes. Mas o [entrosamento] foi muito bom. A gente veio da mesma base, é brasileiro. Então, a gente se entende muito bem. A gente conseguiu fazer um bom campeonato, uma boa defesa sólida, acho que tem muita a crescer ainda”, afirma o defensor.
Junto de Tormena, Diego garantiu a segurança defensiva do Krasnodar na campanha que resultou o inédito título do Campeonato Russo. O troféu foi conquistado na última rodada, com 67 pontos, um a mais que o Zenit, que ficou na vice-liderança, após seis taças seguidas.
“No [lado] psicológico, é difícil, porque a gente sabe da força financeira do Zenit, é um grande clube também, então a gente sabia que era muito difícil. Em muitos momentos, tivemos que ser muito resilientes, campeonato muito difícil. Às vezes, a gente ia jogar com um time de menor expressão, era um jogo muito difícil, porque a gente precisava ganhar. Todos os jogos foram muito fortes fisicamente, então era jogo por jogo, muita guerra. Foi assim até o último ponto, até a última rodada, foi um campeonato muito difícil. Por isso que foi mágico também, por ser o primeiro, por ser da forma que foi, então foi maravilhoso mesmo”.
Com a conquista do título, a cidade de Krasnodar foi tomada pelos torcedores. Conforme o zagueiro recorda, sequer era possível andar pelas ruas, que estavam tomadas pelo verde, branco e preto.
“Eu fiquei aqui até um dia depois da final, a cidade estava totalmente parada. Por onde a gente andava aqui, na verdade, a gente nem conseguia andar, porque todas as pessoas foram para as ruas. Onde você olhava, tinha a bandeira do Krasnodar. As pessoas estavam comemorando demais, foi algo assim maravilhoso. É difícil descrever o momento, porque só quem estava aqui sabe. A gente mal conseguiu sair do estádio, então foi algo muito lindo”, destaca Diego Costa.
Para o futuro, o camisa 4 do Krasnodar quer manter o alto nível na Rússia para continuar subindo degraus nos gramados do futebol europeu. “Acho que continuar na Europa, ir para uma das top 5 ligas, talvez, é difícil falar assim, mas é o que eu busco. É o sonho que todo jogador tem, é jogar uma Champions League, é jogar uma Europa League, então, é o que eu almejo”, conta o zagueiro.
Primeiros passos no futebol com a camisa do São Paulo
Os nove anos de Diego Costa com a camisa do São Paulo foram muito além das incertezas da reta final da passagem. Dos inúmeros títulos nas categorias de base, incluindo a Copa São Paulo como capitão, o zagueiro viveu altos e baixos no profissional.
Os 161 jogos disputados na equipe principal com os títulos do Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Supercopa mostram que o zagueiro não é qualquer jogador na história são-paulina.
Mesmo assim, o defensor revelado em Cotia, na Região Metropolitana de São Paulo, não escapou das inúmeras críticas por parte dos torcedores. Hoje, ele reflete a pressão do passado pelo lado positivo.
“Eu sabia que quando subisse, a cobrança seria muito alta, ainda mais depois que você se torna capitão tão jovem, de um clube tão grande, que estava sem ganhar títulos há muito tempo. A pressão é normal, e a pressão em grandes clubes faz parte. É isso que acho que move o jogador, pelo menos aqueles que querem estar em alto nível. Eu sempre levei isso com muita seriedade, sempre fiz o meu melhor, era muito jovem ainda, tinha muito o que aprender, mas eu sou muito feliz por tudo que eu conquistei no São Paulo”.
Diego, inclusive, conta que até hoje recebe mensagens de carinho dos são-paulinos: “Sou um jogador vindo da base com três títulos, dois títulos inéditos. Acho que não poderia ter terminado essa história da melhor forma. Tenho que agradecer a Deus. Sou muito feliz por tudo que vivi lá”, completa.
Fonte: Terra