Revelar volantes para o futebol brasileiro parece ter virado rotina para o Grêmio. Ronald, 20 anos, é mais um da fábrica do clube. Promovido neste ano ao grupo principal e medalhista de ouro no Pan-Americano, com direito a gol na final, o garoto conversou com o ge e falou do privilégio de trabalhar ao lado de Suárez e Renato e contou como, tão jovem, se transformou em um “especialista” no jogo aéreo.
Criado em Santo Antônio da Patrulha, a cerca de 80 quilômetros de Porto Alegre, Ronald realizou o sonho de atuar profissionalmente no clube do coração. Um desejo que nutre desde os sete anos, quando chegou nas categorias de base, ainda na escolinha do Cristal, na zona sul da capital.
O que torna tudo mais especial é o fato de ter sido alçado ao grupo principal pelo maior ídolo tricolor, Renato Portaluppi, e, de quebra, justamente no ano em que Luis Suárez está jogando no Grêmio.
Sou privilegiado demais por ter o Renato como treinador e ao mesmo tempo o Suárez jogando no meu time.
Ronald foi efetivado ao time profissional do Grêmio no fim de abril, mas ainda alternava com o sub-20. Apesar de treinar com o grupo principal no CT Luiz Carvalho, descia eventualmente para a categoria inferior para disputar as competições de base e manter o ritmo de jogo.
A estreia na equipe de Renato veio quase três meses depois de ser promovido. E o cartão de visita não poderia ter sido melhor. O garoto fez o gol da vitória sobre o Atlético-MG na Arena. A relação com os atletas mais experientes tem sido a melhor possível.
– Ser efetivado no time do meu coração, que eu estou desde os 7 anos, foi um sonho realizado. Eu aproveito todos os momentos com esses jogadores. Tento tirar um pouco de informação de cada um, para colocar no meu jogo. O grupo é muito bom. Me receberam muito bem, como todos garotos que sobem, então é muito tranquilo e me deixam à vontade para jogar – destacou Ronald.
Trajetória e liderança na Seleção
A verdade é que a presença de Ronald no time profissional não chega a ser uma surpresa. É um reflexo da carreira do jovem ao longo das categorias de base, com inúmeras partidas pela seleção brasileira. O volante coleciona convocações desde o sub-15 e foi capitão em várias oportunidades.
O perfil de líder, aliás, vem desde muito cedo. Aos 12 anos, já era capitão da equipe que ficou mais de dois anos sem perder nas categorias de base do Grêmio. A maturidade nas palavras e a postura do jogador ajudam a entender o histórico de liderança.
– Sempre fui capitão em todas as categorias de base, fui capitão da seleção brasileira, no sul-americano. Isso é meu. Me sinto confortável também passando informações para os meus companheiros dentro do jogo. Acho que o futebol é comunicação. Quanto mais comunicação a gente tiver, menos vamos correr e mais fácil vai ficar o jogo para gente.
Foi um ano importante para o jogador na Seleção de base. Entre janeiro e fevereiro, ele foi titular na campanha do título Sul-Americano sub-20 e marcou dois gols na competição. No meio do ano, disputou a Copa do Mundo da categoria. O Brasil foi até as quartas de final.
Por fim, foi medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Esse com um gosto mais especial. Nesta competição também fez dois gols, mas um deles foi o de empate contra o Chile, na final. Nas penalidades, converteu a segunda cobrança e foi fundamental para o título.
– A gente cria uma bagagem muito grande jogando na seleção de base. É muito importante. Eu sempre falo que a seleção é um bônus do que vem fazendo no clube. Graças a Deus tive passagem desde o sub-15 pela seleção até a sub-20. É muito bom para carreira e para o meu currículo.
Especialista na bola aérea
Uma das especialidades de Ronald – senão a principal – é a bola aérea. A prova disso é que todos os gols que fez no Sul-Americano e no Pan foram de cabeça, além do gol que tem pelo time profissional do Grêmio.
Com 1,86m de altura, o volante revelou o “segredo” para ter se tornado um especialista pelo alto: treino. Além disso, Ronald, antes de se tornar jogador, praticava o fundamento nas paredes de casa.
– O segredo é treinar. Desde pequeno sempre gostei de cabecear. Quando eu era pequeno e estava em casa sozinho, pegava a bola e cabeceava na parede, voltava, fazia tabela com a parede. Então fui pegando essa manha de cabecear, fui treinando, aperfeiçoando e é um ponto forte no meu jeito de jogar. Vou aperfeiçoar para cada vez fazer mais gols de cabeça.
Ao longo da entrevista, Ronald contou sobre suas inspirações no futebol e deu mais detalhes sobre a especialidade no jogo aéreo. O pai foi um grande incentivador e, com influencia da várzea, ajudou o garoto a desenvolver e potencializar as qualidades.
– Meu pai sempre estimulou. Ele sempre gostou de futebol. Sempre estava no meio do futebol da várzea. Eu ia com ele e gostava. Às vezes, quando eu estava com ele, a gente ficava brincando de fazer tabelinha de cabeça. Fui gostando, fui pegando o dom. É um jogo que gosto, essa bola aérea, me sinto confortável – finaliza.
Ronald ainda dá os primeiros passos no time principal do Grêmio, mas as poucas amostras agradam e dão perspectiva de evolução dentro do clube. O volante, recentemente, foi titular na memorável vitória, de virada, por 4 a 3, diante do ex-líder Botafogo.
Novas chances devem surgir nas rodadas finais do Campeonato Brasileiro. Seja com a bola nos pés ou de cabeça, como um bom gremista que é, Ronald já se sente pronto para sonhar com títulos pelo time do coração.
Fonte: GE