Aos 43 anos, Tiago Nunes encontrou a melhor versão como pessoa e profissional. Depois de passagens por Ceará, Grêmio, Corinthians e Athletico-PR, clube no qual conquistou Copa do Brasil e Sul-Americana, o treinador explora um cenário praticamente desconhecido para os profissionais brasileiros: o mercado sul-americano. Hoje, ele dirige o Sporting Cristal, do Peru, e lidera o Campeonato Peruano, que volta às atividades neste fim de semana.
Em entrevista ao ge, o treinador conta os motivos para abrir a mente em direção ao futebol vizinho e comenta como lidou com frustrações vividas no Brasil, especialmente na época de Corinthians. Ele se diz mais leve ao se distanciar de um ambiente “tóxico” encontrado no futebol brasileiro.
– Tenho cabelos brancos, mas só tenho 43 anos. Já cometi todos os erros pessoais e profissionais. Nesse processo de aprendizagem, eu sou uma pessoa em formação constante. Treinador é um administrador de crise, e hoje sou um cara melhor – comentou.
– Tive dificuldade aqui no início diante do ambiente tóxico no Brasil, com cobrança por resultado imediato, que você não ganha três jogos e é demitido. Eu transferi isso para os jogadores aqui e tive dificuldade. Eles não entendiam tanto essa cobrança precoce. A parte boa é que isso gerou uma comunicação melhor, uma relação melhor – acrescentou.
Neste processo de autoconhecimento e procura pela evolução pessoal, Tiago não hesitou ao falar sobre o trabalho no Corinthians ocorrido em 2020, em meio à pandemia, e elogiou o tempo de convivência com Luan, jogador que chegou ao clube sob seu comando e deixou recentemente o clube pela porta dos fundos.
– Luan é um grande jogador e nunca deixou de ser. Quando se personifica na pessoa todo um processo, isso é um pouco fora do normal. Luan acabou sendo eleito uma bandeira do momento em que o Corinthians atravessava, vivendo em uma pandemia, sem torcida, com momento financeiro delicado – relembra.
– Comigo sempre foi um grande profissional e se portou muito bem, executou tudo o que pedi. Quando se dirige um clube deste tamanho, com essa envergadura, qualquer coisa pequena gera muita notícia – concluiu Tiago.
Na entrevista abaixo, Tiago Nunes comenta detalhadamente sobre como tem encarado a mudança de país, as vantagens e desvantagens de trabalhar no Peru. O treinador também se mostra surpreso sobre a onda de denúncias sobre apostas no futebol brasileiro.
Confira a conversa completa com Tiago Nunes:
ge: É incomum técnicos brasileiros trabalharem na América do Sul. Por que decidiu seguir por esse caminho?
– A gente olha para a Europa como referência, e a ausência de treinadores brasileiros sempre foi algo questionável. Sempre se “linkou” à falta de qualidade a ausência nas grandes ligas. Conversando com treinadores argentinos, chilenos, paraguaios, uma rede ampla que adquiri ao longo dos anos, tive como referência não a falta de qualidade dos profissionais, mas sim a ausência fora do Brasil efetivamente. Mesmo em mercados como China, Japão, onde tinham mais acesso, o brasileiro pouco sai do Brasil, pois estamos em um futebol com muitos clubes.
– Tomado a isso, o futebol brasileiro sempre pagou mais, então nunca foi tão atrativo para os treinadores explorarem esse mercado. Não se imaginava um treinador brasileiro campeão de torneios nacionais indo dirigir um time do Peru. Faltou esse processo de migração para apresentar a escola brasileira. O argentino faz isso de maneira qualificada, o uruguaio também.
ge: Esportivamente, o que chamou a atenção?
– Historicamente, países como Peru, Argentina e outros com crise econômica vendem seus principais jogadores. No futebol brasileiro, começou o repatriamento de jogadores, com jogadores que performavam na Europa sendo novamente reforços. O Brasil acaba sendo uma ponte para a Europa e leva uma vantagem esportiva, isso tem peso para o treinador também.
– Difícil para o treinador campeão no Brasil ter esse envolvimento, porque o cara que se destaca acaba indo para o Brasil. Tem a ver em ser competitivo, mesmo sem ter o mesmo aporte econômico. Tem valor individual, tem margem de crescimento para o futebol sul-americano. O Brasil pode estar à frente em processo de comunicação, estrutura de trabalho, pois sempre existiu mão de obra qualificada para trazer mecanismos de gestão.
ge: Quais as principais diferenças na estrutura e condição financeira do futebol peruano? – A diferença econômica é bem grande. Eu poderia dizer que o montante que gira no futebol peruano em um clube como o Sporting Cristal está mais próximo de uma equipe de Série B do futebol brasileiro do que da primeira divisão. Mesmo assim, conseguimos competir todos os anos na Libertadores, faz tempo, mas já tivemos bons resultados, como foi em 97, quando o time foi vice-campeão da Libertadores contra o Cruzeiro.
– Este ano, tivemos uma campanha boa, não conseguimos classificar para o mata-mata da Libertadores, mas competimos com Fluminense e River, mesmo com uma diferença econômica grande. Para mostrar essa diferença, historicamente, a principal venda do futebol peruano gira em torno de um milhão e meio de dólares, o que é uma cifra muito menor do que uma venda normal no futebol brasileiro.
ge: E como tem sido o trabalho no Sporting Cristal? Quais pontos principais?
– A minha escolha de vir para o Sporting Cristal tem uma relação com a estrutura que eu iria encontrar. Eu já teria uma boa estrutura montada, atualmente, eu estou em um centro de treinamento que se chama La Florida, onde há seis campos e uma estrutura física bem operacional. Eu diria que é uma estrutura compatível com a Série A do futebol brasileiro.
– A gente trouxe para cá algumas novas tecnologias também, como o fisiologista, que era uma função que não existia no futebol peruano até então. Com ele, veio toda a estrutura do laboratório de fisiologia de controle, de performance e de análise de treino. Então, isso foi nosso principal valor agregado.
– O Cristal é um time formador, ele tem todas as categorias de base e investe nessa área. A gente disputou a Libertadores com uma média de idade de 24 anos.
– Eu poderia citar que Sporting Cristal, Alianza Lima, Universitario, Melgar são os grandes em aporte econômico e de torcida. O Cristal está na frente desses em termos de estrutura física e na construção de jogadores. Então, eu quis vir para cá por essa estrutura e pelo time ter essa visão de apostar em jogadores jovens, não só para para dentro próprio clube, mas também para o mercado internacional.
ge: Como foi a negociação para você chegar no Sporting Cristal? O que eles fizeram para te convencer? – Esse processo de sair do Brasil para o mercado sul-americano começou em 2020, depois que eu saí do Corinthians. Eu comecei a fazer uma reflexão sobre os próximos passos de carreira e vi que o futebol sul-americano poderia ser uma boa porta de continuidade pensando no mercado europeu a longo prazo. Nesse movimento eu conheci um empresário chileno e demonstrei a ele meu interesse em sair do Brasil.
– No fim do ano passado, ele me me perguntou se eu teria interesse de trabalhar no Sporting Cristal. O clube tem uma gestão como uma SAF do Brasil. Eles me mostraram qual era o próximo passo, que é esse processo de formação de jogadores, mas também voltar a ter um reconhecimento internacional.
– O fato de ter o mesmo treinador nos últimos três anos também me motivou, imaginando que poderia ter uma continuidade de trabalho, o que é um pouco insano no Brasil. Além disso, o Cristal tem uma grande torcida, é um time que disputa competições internacionais e que briga para ser campeão nacional. Também é economicamente saudável. Então, esses foram os ingredientes que me fizeram aceitar o convite.
ge: O Sporting Cristal está entre os clubes mais organizados que você trabalhou? – Sem dúvida alguma é um dos clubes mais organizados que eu trabalhei. Boa parte dos dirigentes vem do mundo corporativo e tem muito conhecimento administrativo. Eu vejo que é um clube que está muito próximo do que eu vivi, principalmente, no Athletico em termos de gestão. Claro que ainda está longe do capital de investimento, mas caminha a passos bem seguros para, a longo prazo, poder ser um time sul-americano de referência.
– Hoje, vejo que o treinador deixa de fazer parte só do treino, como eu acabei fazendo no Corinthians e no Grêmio, e passa a ser aquela figura que tem um envolvimento global, com todo o projeto do clube.
ge: Você teve dificuldade para se adaptar com o idioma, com a culinária ou com o clima no Peru? – Eu não tinha a mínima noção de como era o Peru, nunca havia pensado em trabalhar aqui efetivamente. Um dos primeiros passos foi ligar para o Paulo Autuori, que havia dirigido o Sporting Cristal, o Alianza Lima e a seleção peruana. Então eu pedi referências, e ele ajudou nesse processo de entender a característica das pessoas daqui.
– A culinária é algo fora do comum, talvez uma das melhores do mundo, eu nunca tinha provado tanta comida boa no mesmo lugar. Eu também moro em um bairro beira-mar, o que tem melhorado minha qualidade de vida. Único problema é o trânsito, mas nada muito diferente de São Paulo.
ge: Como é cobrança por resultados? É uma pressão menor do que você encontrava no Brasil? – Poderia dizer que é menor e diferente. Para você ter uma ideia a gente teve duas derrotas seguidas na metade do ano e alguns torcedores invadiram o treinamento para cobrar os jogadores, mas foi caso aleatório. Inclusive aquilo não é uma conduta natural.
– A gente perdeu dois jogos pela Libertadores, para o River e para o Fluminense, o que não tem nada de anormal e perdemos um clássico fora de casa. Veio uma cobrança muito forte da torcida organizada, que também existe aqui. Mas é um mundo diferente.
–Eu me surpreendi com a própria imprensa, que é um dos catalisadores nesse processo de cobrança, pois falaram que é muito difícil analisar o trabalho da comissão técnica brasileira em seis meses. No Brasil, em seis meses é como se passassem dez anos. A referência deles de avaliação é mais a longo prazo. Claro que existem trocas como qualquer outra instituição, os nossos rivais aqui já mudaram de treinador neste ano.
ge: O Sporting Cristal é líder invicto no campeonato peruano e passou 14 jogos sem perder na temporada. Quais aspectos fundamentais para esse trabalho ter apresentado bons resultados em pouco tempo? – Havia uma base de jogadores das últimas duas temporadas e tivemos meninos que vieram das categorias de base que já conheciam a cultura do clube. Quando chegamos no Cristal, também fomos muito bem recebidos pelos jogadores.
– No começo do ano, a gente foi segundo colocado no primeiro torneio do ano, perdemos para o Alianza que foi o campeão. Isso porque a gente teve que priorizar pré-Libertadores e depois a Libertadores, então a gente poupou alguns jogadores no campeonato nacional.
– Tem uma curiosidade que no campeonato peruano que você pode ser campeão do Torneio Apertura, do Torneio Clausura e depois da tabela acumulada. Hoje, a gente está brigando por esse segundo campeonato e assumimos a liderança acumulada dos dois torneios.
– Foi uma evolução nesse processo, primeiro pela característica de jogo que eles já tinham, que é um jogo mais técnico, com o qual eu me identifico. Outro ponto importante é que a gente tem um fator local muito forte na cidade, conseguimos tirar muita vontade quando jogamos no nosso estádio.
ge: O que você acha que o futebol brasileiro poderia aprender com a cultura do futebol peruano?
– As culturas são muito bem estabelecidas, não é fácil mudar. Eu acredito que a gente pode evoluir socialmente, não necessariamente aprender com outros países. No Brasil, a gente vive um mundo em que os treinadores, também falando por mim, não respeitam a imprensa, os dirigentes e os jogadores. E cada uma dessas classes também não respeita os treinadores.
– Existe um debate de ideias muito vazio, todo mundo quer mudar, mas não existem medidas práticas, por isso a gente não sai do lugar. Começa com a legislação do futebol, que não faz os clubes manterem os seus profissionais ao longo prazo, e os profissionais também que não respeitam os processos.
– Posso afirmar que a solução dos problemas não passa só pelos treinadores, mas sim por todas as classes. É importante focar na educação da sociedade para saber que o futebol é um um dos ramos sociais que a gente tem que valorizar e respeitar.
ge: E no Peru?
– Existe um ambiente mais tranquilo e proporcional em que eu consigo ter a minha melhor versão como pessoa e, consequentemente, ter a minha melhor versão como profissional. Além disso, posso ajudar as pessoas que trabalham comigo a encontrem sua melhor versão também.
– Não tenho expectativa que o futebol brasileiro vá mudar nem imagino o futebol peruano possa influenciar. Mas, eu sou otimista para que, a longo prazo, a gente possa perceber que não existe um culpado só e de devemos parar de encontrar culpados e buscar soluções em conjunto.
ge: Qual a diferença entre o Tiago Nunes que saiu do Brasil e o que está hoje treinando o Sporting Cristal?
– Eu estou com os cabelos brancos, mas eu só tenho 43 anos. Eu já disse algumas vezes que já cometi todos os erros pessoais e profissionais aos 43 anos. Então, nesse processo de evolução, é natural ter erros na tomada de decisão e na gestão de pessoas. Eu sou uma pessoa e um líder em constante evolução.
– Como a gente falava antes, o ambiente no Brasil te pressiona a tomar decisões que não está preparado para administrar, e o treinador é um administrador de crises. Então, eu sou um cara melhor aqui, provavelmente, quando eu estiver com meus 45 ou 50 anos, vou cometer erros compatíveis com essa idade. Mas, hoje tenho trabalhado para ser um treinador melhor e ter uma evolução profissional.
– Essa estadia aqui já me rendeu contato de mercados de outros países da região, como Equador, México, Colômbia, Chile. É uma demonstração que eu estou disponível no mercado internacional. Também fui chamado por três equipes brasileiras.
– Essa experiência no futebol peruano, como passar por competições internacionais sob um ponto de vista diferente do brasileiro, foi muito valiosa. Então, no futuro, vou ser um cara mais preparado para administrar novos problemas na carreira.
ge: Quais erros mais te fizeram evoluir? Indicar o Luan para o Corinthians foi um desses erros?
– A indicação de qualquer jogador não pode ser lida como como erro, porque, independentemente de quem seja, todos têm uma ascensão, vão muito bem, depois vão mal em outro clube. Então, indicar um jogador não é um erro, é uma tomada de decisão e quem toma decisões tem que estar disposto a pagar o preço por essa decisão acertada ou errada.
– Eu prefiro focar em coisas legais que muitas vezes não aparecem. Algo que deixou muito feliz foi ver o retorno do Ruan Oliveira. Ele estreou no profissional do Corinthians comigo em 2020. Depois teve assim as lesões e agora está em um momento legal. Assim como ele, Mateus Donelli, Raul Gustavo, Roni, Xavier, Gabriel Pereira, Lucas Piton e o Mosquito passaram pelo processo de transição da base para o profissional naquele momento.
– O verdadeiro legado do treinado é deixar jogadores jovens no time. Claro, o resultado sempre vai falar mais alto. Mas, eu fico com essas boas memórias. Os erros são pertinentes a quem toma decisão e o treinador está sempre tomando decisões. Eu tenha sorte de errar menos e continuar competindo para melhorar no futuro.
ge: Você disse que não se arrepende da indicação. Mas, principalmente depois que você deixou o Corinthians, ele teve uma trajetória muito tumultuada. Por ter trabalhado com o Luan, você se surpreendeu com tudo o que aconteceu?
– O que aconteceu foi muito louco. Primeiro, ele não deixou de saber jogar bola. Segundo, quando a gente personifica em uma pessoa a responsabilidade por todo o processo é um pouco fora do normal. O Luan acabou sendo uma bandeira do momento que o Corinthians atravessava, vivendo uma pandemia, uma temporada sem torcida e um momento econômico delicado.
– Os jogadores que imaginávamos que seriam contratados não foram, o time passava por um processo de transição, da saída dos jogadores mais velhos para chegada dos mais jovens. Em uma pressão gigantesca como essa, ninguém consegue render bem. Eu jamais elegeria o Luan como culpado, comigo ele foi um grande profissional, executou tudo que eu pedi.
– Quando você dirige um clube desse tamanho, qualquer motivo pequeno gera muita notícia. Então, os problemas do Corinthians naquele ano ou deste ano são uma coisa só, é algo multifatorial. Mas a gente sabe que o futebol tem que eleger culpados e heróis. Eu sei como a gente se esforçou e trabalho para o time ser melhor do que quando chegamos. Mas, o resultado é passageiro, o que fica é a relação construída com os jogadores e funcionários.
ge: Quais jogadores jovens do Sporting Cristal que devemos ficar de olho?
– É um time jovem, eu poderia citar no mínimo uns dez que têm potencial. Leo Dias, zagueiro de 19 anos, Rafael Lutiger, outro zagueiro de 22 anos, Jostin Alarcon, meia de 20 anos, João Grimaldo, 20 anos, que é o Suárez do time. Além dos jovens, temos jogadores experientes. Eu estou muito feliz pelo Ignácio, jogador brasileiro que fez gols importantes.
– O mercado sul-americano é interessante, pois você consegue ter um destaque Internacional. Eu fiquei feliz que o Rodrigo Santana foi para uma equipe boliviana, que o André Jardine está no México, que o Paulo Autuori estava no Nacional da Colômbia. Legal ver que os técnicos brasileiros estão fazendo movimentos para abrir o mercado e ter reconhecido internacional.
ge: Ainda pretende voltar pro Brasil em um futuro próximo? Qual é o seu maior objetivo na carreira de treinador?
– Eu tenho alguns objetivos bem estabelecidos, não vou compartilhar ainda porque os objetivos pessoais a gente não compartilha. Mas eu tenho procurado me desenvolver, deixei um pouco de lado essa questão de qual é o meu próximo passo e o pensamento de que eu tenho que estar no principal clube do Brasil.
– Hoje, eu estou mais centrado em melhorar profissionalmente e ser um cara experiente que tem mais de 40 jogos entre Copa Libertadores e Sul-Americana desde 2018. Disputei título com o Corinthians, Grêmio, Athletico-PR estou disputando títulos aqui. Esse acúmulo de experiência tem sido o maior ganho.
– Se eu pudesse colocar como objetivo futuro seria continuar disputando competições internacionais, continuar disputando títulos e continuar me desenvolvendo para ser lembrado como um profissional que é confiável para o mercado.
– Eu não tenho essa loucura de ser o melhor do mundo, não tenho essa essa fome de trabalhar 24h do dia com futebol, não sou assim. Quero trabalhar de maneira saudável, fazer da minha profissão algo que seja um meio para ser melhor.
ge: Tiago Nunes é um cara muito mais leve trabalhando no futebol peruano?
– Sim, sou um cara mais leve no sentido de viver melhor. Ainda sou exigente com o trabalho, muito pragmático, um cara que trabalha com processos e que acredita que sempre existe margem para se desenvolver independentemente da idade e do que o jogador já ganhou. Mas, ao mesmo tempo, sou um cara que entende mais as limitações humanas. Profissionais com quem trabalhei me ajudaram a entender como ser um líder melhor para ter pessoas melhores perto de mim.
ge: Tem algum treinador brasileiro ou internacional que te inspira?
– No processo inicial de formação, todo mundo trabalha com referências e com o treinador também acontece isso. Então, nos anos iniciais tentamos copiar, mas com o passar do tempo encontramos a nossa própria versão profissional.
– No futebol brasileiro, eu tenho como referência o Pauto Autuori. Ele é um cara que eu acho que não tem o reconhecimento que deveria ter dentro do próprio Brasil. Um cara que já foi treinador de seleções, de equipes da América do Sul, Europa e Ásia é um cara que foi campeão do mundo com o São Paulo, bicampeão da Libertadores com o Cruzeiro e São Paulo.
ge: Esse Tiago Nunes mais leve, que quer ser um gestor melhor, encararia agora o ambiente tóxico do futebol brasileiro ou é algo que não te atrai neste momento?
– Eu tive três propostas de clubes brasileiros importantes e que realmente me balançaram, mas hoje eu estou muito mais maduro e seguro para entender meu próximo passo, que é terminar o ano aqui, depois disso passo a avaliar com calma novas propostas.
– Eu já cometi o erro de dizer coisas no calor da emoção e depois me arrepender. Então, hoje o foco principal é terminar a temporada aqui. Depois eu analiso com calma, porque um passo na carreira não é só profissional, mas também na vida pessoal. Tenho minha família que está no Brasil, então é uma coisa para avaliarmos juntos.
– Não vivo mais 24h de futebol. Ele é um meio muito importante, que me faz uma pessoa melhor, mas é um meio para eu poder me desenvolver e desenvolver outras pessoas.
ge: Recentemente, explodiram notícias sobre jogadores envolvidos com apostas. Isso te surpreendeu ou você acha que é algo que ocorre há muito tempo e só agora estourou?
–Fiquei muito surpreso, porque fere qualquer princípio do jogo. A gente que trabalha com o futebol tem o princípio da paridade de disputa. Qualquer competição que eu entro, independentemente do time, acredito que posso ser campeão. Se pode ter alguma manipulação de cartão ou resultado, você começa a pensar nos jogos que trabalhou e que poderia ter algum fato, mas nunca aconteceu diretamente comigo.
– Ver que os jogadores que têm salários altos e que jogam em equipes de ponta estão envolvidos e que acontece em todas as divisões, me surpreendeu negativamente.
–Tomara que, como já aconteceu anos atrás, com a máfia do apito, quando os jogos voltaram, isso sirva de exemplo para nunca mais acontecer.
Fonte: GE