A realização de um sonho antigo. É assim que o volante Tchê Tchê traduz como é defender o Atlético-MG. Emprestado pelo São Paulo ao clube mineiro, em abril, o jogador de 28 anos chegou ao Alvinegro a pedido do técnico Cuca e, desde então, é titular absoluto. Porém, apesar de já se sentir em casa, a adaptação à nova cidade não foi das mais fáceis, principalmente para a família.
Com 16 jogos realizados pelo Galo até o momento, Tchê Tchê precisou cuidar da mente para que as dificuldades não atrapalhassem no rendimento dentro de campo. Fazer com que o primogênito Rhavier, de quatro anos, se sentisse em casa também em Belo Horizonte, foi o grande desafio.
“Fico muito feliz de vestir a camisa do Galo. Não falo para agradar ninguém. Sempre tive a vontade de jogar aqui. Sei da loucura da torcida, que sabe reconhecer e apoiar. Todos me receberam muito bem aqui. No primeiro mês foi difícil para minha família. Meu filho chorava bastante e queria voltar para a ‘cidade velha dele’, como ele dizia, e para a escolinha também. Foi bem complicado. A gente ficou um pouco isolado.Mas eu procurava não me abalar com isso para ter um bom rendimento. Me sinto muito privilegiado. Já havia tido conversas com o Sampaoli, mas não andou. Meu desejo foi muito grande de vir para cá quando o convite surgiu novamente”, conta o volante em entrevista exclusiva.
Sempre durante as entrevistas coletivas, Tchê Tchê destaca que vestir a camisa do Atlético-MG é um sonho. Jogador de bastante personalidade, ele também bate na tecla de que isso não é demagogia ou discurso para agradar os torcedores. O sentimento pelo Galo, inclusive, aflorou em 2013, quando o clube conquistou pela primeira vez a Libertadores. Defendendo o Audax-SP na época, ele revela que, na torcida pelo título, até gritava o ‘Eu Acredito!’ em frente à televisão.
“Em 2013, quando o Galo ganhou a Libertadores, eu estava em casa. Eu ainda jogava no Audax. Até brinquei com o Réver que naquela época eu também gritava o ‘eu acredito’, quando eles revertiam os resultados dentro de casa. Então eu já via como a torcida empurrava o time dentro de campo. Lembro também do jogo contra o Flamengo [Copa do Brasil de 2014]. Era uma coisa que me deixava arrepiado. Eu ainda não sabia o privilégio que Deus me daria profissionalmente”, diz Tchê Tchê.
“Além disso, o Junior Urso é um amigo próximo e me falou que eu deveria vir porque eu me encantaria com tudo que encontraria aqui. Me sinto um privilegiado por realizar um sonho. Este desejo sempre aflorava no meu coração e hoje posso realizá-lo. Minha família está muito feliz e eu não falo isso para agradar”, comenta.
Cara à tapa
Vivendo o melhor momento desde que chegou ao Atlético-MG, Tchê, Tchê hoje consegue estampar o sorriso no rosto e entrar mais leve em campo. No início, após alguns erros —contra o América de Cali-COL, por exemplo, uma falha resultou no gol do adversário—, foi bastante questionado por parte de torcida e mídia. Porém, ciente da capacidade, nunca se escondeu quando acionado para conceder entrevistas na Cidade do Galo.
“Na época que as coisas não estavam muito legais, eu fui lá [na coletiva de imprensa]. Nós já sabemos, só pela maneira que as coisas acontecem, o que estão falando. Tenho personalidade e não estou aqui para dar a cara só quando as coisas estão bem. Isso não me afeta em nada, porque só vejo quando [pessoas próximas] me mandam no celular. Eu não vou na internet para saber o que estão falando de mim; não me faz bem, nem para o mal, nem para o bem. A imprensa vai falar bem se for bem e mal se for mal. O meu foco é ajudar o Atlético a estar no mais alto nível e conquistar grandes coisas”, destaca o meio campista atleticano.
Saída do São Paulo
Uma das principais peças do São Paulo em 2020, inclusive na vitória por 3 a 0 sobre o Galo, no Morumbi, Tchê Tchê virou alvo de Jorge Sampoli, comandante do Galo na época. Procurado, porém, não foi liberado pelo Tricolor para desembarcar em Minas Gerais. Em abril, já com Cuca no comando, finalmente teve o aval.
Emprestado ao Atlético-MG até maio de 2022, o volante revela à reportagem que conversou com Hernán Crespo antes de o martelo ser batido com os mineiros.
“Em 2016 viemos jogar contra o time do Atlético, que era muito forte. Empatamos no Horto e no dia seguinte fomos treinar na Cidade do Galo. Estavam o Urso e o Robinho, com o cavaquinho. Meu irmão me disse que um dia eu jogaria aqui. Tive uma rápida conversa com o Crespo [há dois meses] e falei que minha vontade era de jogar no Galo. Ele disse que eu tinha que estar onde me fizesse feliz, não que não estivesse lá. Mas era um sonho de carreira estar aqui”, diz.
Tardelli e Djonga
Nas boas voltas que o mundo dá, Tchê Tchê encontrou no Atlético-MG um ídolo da infância. Quando criança, ele teve a oportunidade de ir ao Centro de Treinamentos do São Paulo, onde conheceu de perto Diego Tardelli e Grafite. Na chegada ao Galo, anos depois, recebeu abraço do atacante e, com ele, dividiu quarto nas concentrações.
“Eu jogava numa escolinha do São Paulo em Itaquera e fomos ao CT. O Tardelli tinha um cabelo diferente, com uns risquinhos, e eu queria tirar uma foto com ele e o Grafite. Quando as conversas esquentaram, com notícias mais contundentes [da ida para o Atlético-MG], ele me mandou mensagem no Instagram para que eu viesse. Falei que estava louco para que isso acontecesse e ele me falou que todos estavam me esperando. Quando cheguei, ele me deu um abraço”, conta.
“Dividíamos quarto até ele sair. O cara ficava até 2 horas da manhã pesquisando como manusear as peças de poker e me ensinando mágica também (risos). Fico triste com a saída dele (Tardelli não teve o contrato renovado com o Galo), mas conversamos quase que diariamente. Torço para que seja bastante feliz onde for”, diz o volante.
Perguntado se também é fã do cantor Fábio Júnior, assim como Tardelli, e se já matou treino para ir a shows, Tchê Tchê ri e diz que a fase de indisciplinas ficou num passado distante. Além disso, revela ser fã de um rapper belo-horizontino e, para melhorar, atleticano.
“Só na base só. Fiquei tranquilão depois. Na base eu já dei umas aprontadas de sumir semanas e depois o povo me buscar. Eu e minha esposa já fomos sim em alguns shows, mas sempre com a responsabilidade de treinar no outro dia. Escuto muito louvor, mas a pessoa que mais escuto é o Djonga, que é atleticano. Gosto muito do estilo de música dele e a forma que aborda alguns assuntos. Sempre falo com minha esposa que sempre que ele lança uma música, temos que ouvi-la três, quatro vezes para entender o que ele quer passar. É um cara muito inteligente que consegue fazer poesia na música, abordando assuntos muito delicados hoje em dia”, comenta.
Fora do ‘clube da pescaria’
Apesar de ser um cara de grupo e amigo de todos os jogadores na Cidade do Galo, Tchê Tchê “racha o vestiário” quando o assunto é pescaria. A moda puxada pelo meia Nathan e aderida por vários companheiros de time, não faz o gosto do paulista da zona leste. Segundo ele, nada vai fazê-lo sentar à beira d’água para fisgar um peixe.
“Nathan é um cara bacana e como jogador dispensa comentários. Mas esse negócio da pescaria ele não vai me convencer. Não faz parte do meu cotidiano. Pessoal senta na beira do lago e fica pescando, isso não é pra mim. Ele é fissurado com peixe e procura sempre levar o máximo de pessoas que puder para o clube de pesca dele. Mas eu vou fugir e ser só companheiro dentro de campo. Não tenho a mínima noção do que tem que fazer lá”, conta, às gargalhadas.
“Eles até brincaram que eu sou todo malandrão, que não gosto de pesca, mas na hora do gol fui lá comemorar como se estivesse pescando. Eu ri e disse que sou um cara de grupo e que não ia perder a oportunidade de sair na foto”, finaliza.
Fonte: UOL