Enquanto clubes do exterior acompanham a evolução da atual geração de Gabriel formados pela base do Palmeiras, um deles chamou atenção há 10 anos, ganhou espaço no time titular alviverde e hoje continua atuando na Europa.
Lateral-esquerdo formado na base do Verdão, Gabriel Silva defende o Saint-Etienne, da França. Na época de Academia de Futebol, ele conseguiu ser promovido e virar titular em um período que não era muito comum ver jovens ganharem espaço no time titular palmeirense.
– Eu falava muito com o Luis Felipe, o Tchatcha, o lateral-direito da época. A gente se destacou por sermos dois laterais que trocavam muito. O Bruno Turco, também, era da minha cidade. A gente pode fazer uma boa Copa São Paulo, foi a alavanca para subir ao profissional. Aí chegamos, vimos vários jogadores experientes, como Marcos Assunção, Valdivia, Kleber, o Marcão… são pessoas que sempre nos deram bons conselhos e eu nunca vou esquecer – lembrou o jogador, hoje com 29 anos.
– O Assunção falou para mim: “Você está indo para lá e quero que você fique no mínimo dez anos”. E já faz dez anos que estou na Europa. Fico muito feliz, eram pessoas que queriam nosso bem na época e que nos ajudaram muito.
Gabriel Silva foi negociado pelo Palmeiras com a Udinese no fim de 2011. Os italianos pagaram cerca de quatro milhões de euros (aproximadamente R$ 9,5 milhões na cotação da época).
O Verdão era dono de 60% dos direitos econômicos do jogador e comemorou a transferência de uma de suas principais revelações naquele momento. Antes, o clube havia arrecadado com pratas da casa em transferências como as do atacante Vagner Love para o CSKA, da Rússia, e do goleiro Diego Cavalieri para o Liverpool, da Inglaterra.
Antes de iniciar a carreira na Europa, com passagens também por Carpi (Itália), Genoa (Itália) e Granada (Espanha), ele teve contato com três dos principais treinadores da história do futebol brasileiro.
– Quando eu estava na categoria de base e ganhamos o Paulista Sub-20, quem estava como técnico era o Vanderlei Luxemburgo. Ele que me chamou. Quando voltei para a Copa São Paulo já era o Muricy. Perdemos a semifinal para o Santos em um sábado, se não me engano, e já tinha jogo do Paulista. O Muricy queria que eu fosse, porque iria jogar. Foi uma maratona pegada, já cheguei e joguei – contou.
– Até me machuquei, fiquei um bom tempo machucado, e o Muricy saiu. Veio o Felipão, eu estava recuperando, mas depois ele me deu oportunidades. Posso dizer que peguei os três melhores técnicos do Brasil, é muito gratificante ver que eles viram potencial e graças a Deus estamos aqui hoje – afirmou.
Na época, o Palmeiras vivia uma reformulação em seu plantel e não tinha rotina de concorrer aos principais títulos. Uma boa oportunidade ocorreu em 2010, quando o Verdão de Luiz Felipe Scolari foi semifinalista da Copa Sul-Americana. Mas, depois de vencer em Goiânia e abrir o placar no jogo de volta, no Pacaembu, a equipe palmeirense foi eliminada pelo Goiás.
– Este momento eu nunca vou esquecer. Depois deste jogo, quando cheguei em casa, eu virei a noite, não consegui dormir. Não acreditava que a gente tinha perdido o jogo, a chance de chegar na final. Foi algo bem próximo de poder ganhar um título com o Palmeiras. A gente saiu na frente no primeiro jogo, um resultado a nosso favor, depois vê escapar pelas mãos…
– Foi muito difícil. Lembro que cheguei em casa, ainda morava sozinho em São Paulo. Ligava para meus pais chorando, sem acreditar que tinha perdido, que não passamos para a final. Parecia que não era real o que estava vivendo. Mas é aquilo, quando as coisas não acontecem como a gente quer, precisa ter paciência e continuar trabalhando.
Gabriel Silva em campo no Campeonato Francês — Foto: Divulgação / Saint-Étienne
De promessa da base do Palmeiras, Gabriel Silva começou a viver o sonho de garoto na Europa vendo de perto ídolos do futebol mundial e enfrentando craques como Cristiano Ronaldo e Neymar.
– Jogava videogame e via os jogadores. Depois você está em campo jogando contra vários jogadores que não imaginava ver pessoalmente. Kaká, Balotelli, o Pirlo quando estava na Itália, depois na Espanha Cristiano Ronaldo, Messi… Jogar contra o Real Madrid no Bernabeu, o Barcelona no Camp Nou. O primeiro impacto… Parece que é mentira, algo surreal. São coisas que vão ficar marcadas, uma lembrança muito boa e só tenho que agradecer a Deus por estes momentos – relembrou.
– São de outro planeta, como falam. Contra o Real Madrid, lembro de um lance que saíram eu e o Cristiano Ronaldo, lançaram para ele, tem uma foto que pegou certinho eu tirando a bola. São jogadores de outro planeta, não dá para comparar, por mais que a gente tenha perdido o jogo no Santiago Bernabeu, é surreal. Nunca pensei que viveria neste momento – completou.
Atualmente, o Saint-Etienne está na 13ª colocação do Campeonato Francês. O Lille é o líder com 70 pontos, seguido pelo PSG, com 69 pontos. De companheiro de seleção brasileira sub-20, Neymar virou adversário na França.
– Eu me sinto bem na França. Ajuda é o tempo que estou na Europa, por ter vivido na Itália e na Espanha. Estou feliz no clube, é uma cultura diferente das outras, óbvio, mas nada que mude muito, o (idioma) francês é um pouco mais difícil, mas já consigo me virar bem. O Ney não falo por telefone, mas quando jogamos contra a gente troca camisa, conversa um pouco depois. É uma pessoa que eu admiro muito. Como jogamos juntos na seleção sub-20, temos uma relação muito boa – contou.
– É muito difícil quando a gente fala do PSG, todos sabem que é o grande time, tem um grande elenco, são jogadores de extrema qualidade, é muito difícil. Desde que cheguei, eles foram campeões. Só hoje tem mais briga com Lille, Monaco, Lyon. Mas é um time que chegou na final da Champions League passada, é muito poderoso na França – falou.
O Palmeiras de 2020 ganhou reforços de destaque como o meio-campista Gabriel Menino e o atacante Gabriel Veron, frequentemente especulados como alvos de grandes clubes da Europa. Antes, em 2016, o Verdão já havia negociado Gabriel Jesus com o Manchester City, da Inglaterra. Por já ter essa experiência, Gabriel Silva deu dicas aos xarás do Verdão.
– Tem de seguir o coração, fazer por merecer e trabalhar. Depois que chegar este momento é inevitável, porque é difícil segurar o jogador, principalmente os jovens. A partir do momento que chegarem aqui é não desistir, porque terão tantas coisas para fazer com que eles desistam… Que continuem focados, com a cabeça boa.
– Eu me lembro que quando eu cheguei, estava no verão do Brasil e na Europa aquele frio de arrebentar. Já veio na cabeça que queria voltar, mas lembrei o que o Assunção falou para mim. São culturas diferentes, vai depender do lugar que eles vão, vai ser muito frio, os europeus não são como nós, que são quentes no jeito de lidar com as pessoas. São mais fechados, vão ter dificuldades, mas o segredo é sempre olhar no foco e saber que no fim tudo vai valer a pena – afirmou.
Com contrato até junho de 2023, Gabriel Silva não sabe se permanecerá no Saint-Etienne na próxima temporada. A vontade é continuar atuando no futebol europeu por mais tempo caso decida deixar o clube francês.
– A gente nunca sabe o dia de amanhã, mas pretendo ainda permanecer na Europa, ainda por um bom tempo. Depois a gente vê o que o vai acontecer. Mas lógico, gostaria sim de terminar minha carreira no Brasil, mas isso não depende só de mim. Temos de esperar ver o que vai acontecer, tenho contrato até 2023, não sei se permaneço para a próxima temporada, vamos ver como vão caminhar as coisas.
Fonte: Ge.com