Rodrygo Silva de Goes, 17, viu sua vida mudar por completo em cinco meses.
Em 3 de janeiro, ainda tímido e com o primeiro contrato profissional assinado pouco antes, ele se apresentou para a pré-temporada do Santos. Em 15 de junho, já como titular e segundo artilheiro da equipe no ano, teve anunciada sua ida para o Real Madrid.
A negociação foi fechada em 45 milhões de euros (R$ 194 milhões), 40 milhões de euros (R$ 172 milhões) para o clube santista. A apresentação ao novo time será em julho de 2019.
Em entrevista à Folha, ele afirma que tão rápida quanto a decisão pela transferência é sua nova meta: chegar à seleção brasileira antes de sair do país: “Estou pronto, tenho que estar. É uma coisa que coloquei como objetivo agora”.
Assim, ele poderia realizar o objetivo de jogar com seu maior ídolo, Neymar, alvo de críticas após a participação da seleção na Copa do Mundo.
“Vejo outros jogadores de outras seleções fazendo a mesma coisa, mas não tem repercussão como a dele. Quando se trata de um brasileiro criam uma dimensão desproporcional para o jogador. É muito injusto o que falam”, disse sobre a fama de cai-cai do atacante do PSG.
Além da transferência para o Real Madrid, Rodrygo acumula outros feitos pessoais alcançados precocemente: o contrato com a Nike, fornecedora de material esportivo, com apenas 11 anos, e o fato de ser o mais jovem brasileiro a marcar pela Libertadores.
Já conseguiu se acostumar com a condição de ser um jogador de quase R$ 200 milhões?
Acho que a ficha não caiu ainda. Para muita coisa na minha vida, na verdade, a ficha não caiu. Por enquanto é só mais uma coisa normal. [Sobre os valores] tenho a minha família para cuidar disso, é algo que não ligo.
E já pensa no Real Madrid? Tem acompanhado as negociações do clube?
É o melhor clube do mundo, então você só vai esperar coisas boas sobre ele. Penso lá, sim, mas sei que tenho mais um ano aqui. Então, no momento, estou muito focado no Santos.
Uma das notícias envolvendo o seu novo clube foi a saída do português Cristiano Ronaldo para a Juventus.
Era um dos meus sonhos de criança jogar ao lado dele, por tê-lo como ídolo, assim como o Neymar. Com o Neymar é mais fácil de acontecer. Fico um pouco triste com a sua saída por tudo o que fez pelo futebol e em Madri.
Além dos valores, por que aceitou sair tão precocemente? O seu pai disse que você não precisou escolher a proposta, mas chegou a consultar alguém antes de aceitá-la?
Conversei em casa com toda a minha família, mas a partir do momento que chega uma proposta do Real Madrid é algo que você não tem nem o que pensar. É o maior clube do mundo. Se chegar [uma proposta] do Real e de outro clube do mundo, tem que escolher o Real, independentemente de valores e de como for.
Na última semana, Vinícius Jr. [atacante de 18 anos, ex-Flamengo] chegou a Madri. É uma situação bem semelhante à sua. Teme ser difícil para vocês jogarem? Aceitaria a possibilidade de ser emprestado?
Sinceramente, [ficar sem jogar] é uma coisa que nem passa pela minha cabeça, por todo o meu potencial. São coisas que acho que não vão acontecer e temos que ser bem honestos com relação a isso. Até o Vinícius mesmo, por tudo o que faz, por todo o talento que tem. Acho que não vai acontecer, também.
E vocês conseguiriam jogar juntos ou disputam o mesmo espaço?
Com a qualidade que ele tem e com a qualidade que eu tenho, conseguimos jogar em várias posições, em diversos lugares no campo. Jogadores bons podem estar juntos, sim.
O Neymar é o seu maior ídolo, certo? O que achou da Copa dele? Ele foi muito questionado por sua postura e rendimento na Rússia.
A lesão [que sofreu em fevereiro] foi um fator decisivo. Um cara que estava há três meses parado ainda conseguir jogar tudo o que jogou? Era nítido que ele não estava 100% ainda, mas correu, se dedicou e foi decisivo nos jogos. Claro que existem críticas, até porque o Brasil não foi campeão, mas se o Neymar jogasse da forma como jogou e fosse campeão diriam que foi o melhor da Copa. Então não dá para entender muito as críticas. Acho que fez até demais.
Além das críticas, falou-se muito da postura de Neymar. Você passa por isso também. Acha que ele simula? O que pensa da fama de cai-cai?
Acho que é o jeito dele se defender e vejo muitos outros jogadores de outras seleções fazendo a mesma coisa, mas não tem uma repercussão como a dele. Vejo muitos jogadores de outras seleções se jogando, simulando faltas, mas quando se trata de um brasileiro criam uma dimensão desproporcional. É muito injusto o que falam.
Essa fama prejudica os brasileiros na Europa?
Acho que não, isso vem muito dos brasileiros também. Brasileiro puxa muito o saco de gringo. Tem muitos jogadores de outros países cavando faltas e ninguém fala nada. Quando o Neymar chorou em campo falaram que queria aparecer, que era chorão. Aí vi jogadores do Uruguai e outras seleções chorando e todos bateram palmas para eles. Então não dá para entender esse tipo de crítica.
O Neymar tem um pai que foi jogador profissional e é a sombra por trás dele. Você e o seu pai parecem trilhar um caminho similar. Também vê assim? E faria algo diferente do que eles fazem?
É um assunto difícil de falar, até porque você estará falando da vida de outra pessoa sem saber o que se passa dentro de sua casa. Falar de fora é fácil, mas não sabemos o que realmente se passa. Eu e meu pai seguimos nossa trilha e trajetória sem nos importarmos com o que os outros fazem.
Após a Copa, a tendência é que se inicie uma renovação na seleção. Estaria pronto para já ser chamado hoje?
Sim e tenho que estar. Desde o momento que o Brasil foi eliminado, com toda a falação que teve, preciso estar preparado. É uma coisa que coloquei como objetivo agora: chegar à seleção principal. É algo que trabalho a cada dia com reforço físico, treino técnico extra. Preciso estar preparado para chegar e me sinto preparado para chegar e dar o meu melhor.
Fonte: Folha de S. Paulo