– Um dia eu vou jogar aqui.
Era essa a frase que o garoto Fernando repetia quando saía em companhia do pai para vender comidas e bebidas nas portas dos estádios de Belo Horizonte.
Enquanto ainda não se destacava na equipe sub-20 do Palmeiras e era apontado como uma das principais promessas do Verdão, o sonho se limitava aos portões de entrada do Mineirão e do Independência, quando a família montava uma barraca para lucrar com o tradicional feijão tropeiro e com lanches para os torcedores de Cruzeiro, Atlético-MG e América.
José, pai do atacante que vai disputar pela segunda vez a Copinha com a camisa palmeirense, mantém a rotina até hoje. Aos finais de semana, o nome “Tempero da Dé”, que faz referência à madrasta do palmeirense, percorre os estádios mineiros à procura de um dia produtivo de venda.
Em São Paulo, a batalha do jogador agora é dentro dos campos. Depois de agradar a Cuca e ganhar a confiança de Alberto Valentim, quando estreou no time profissional na partida contra o Vitória, na reta final do Brasileirão, o foco em 2018 será em se manter no grupo. Mas nada foi fácil.
– Eu perguntei como tinham sido os primeiros dias (em São Paulo). Ele respondeu que se tivesse dinheiro tinha voltado. Primeiro dia, tudo estranho, saudade de casa, nunca tinha saído. Foi passando, quando ele veio para cá de volta fiquei mais tranquilo porque me explicou tudo – conta José.
– No começo foi tudo estranho. Nunca tinha saído de casa, sempre falava que ia ficar na aba da minha mãe para sempre. Era outra rotina, achava que não ia aguentar. Eu falei que se tivesse dinheiro eu teria ido embora. Mas sempre que pensava em ir embora pensava que era o meu sonho, que não ia deixar para passar batido tudo o que eu conquistei – acrescenta Fernando.
Em Belo Horizonte, quando a chance de virar atleta profissional ainda era um sonho distante, a rotina era de ajuda no comércio do pai e nas escolinhas de futebol. A proximidade com os estádios só fez com que o desejo de vencer na carreira aumentasse.
– Ele começou a me ajudar com 13 anos. Sempre me ajudou. Ele gostava e ajudava muito. Quando a gente ia para o Mineirão ele adorava trabalhar. Toda vez que tinha jogo, a gente levava o carro de lanche e ele ia comigo. Ele falou que um dia ia jogar aqui. Eu falei: “vai, sim” – relembra o pai.
– Quando era menor eu ia para acompanhar, ia e voltava com ele. Em 2012 ele comprou esse carrinho de lanche. Aí ele me chamou para trabalhar com ele, e comecei a ir em jogo no Mineirão, no Independência. Eu ficava só na parte de fora trabalhando, mas desde a primeira vez que eu fui (ao Mineirão) parecia que estava sonhando – recorda Fernando.
O atacante chegou ao Palmeiras no fim de 2016, após se destacar pela AMDH na Taça BH. Agradou tanto que renovou seu vínculo até 2022 e passou a fazer parte do dia a dia profissional do Verdão. A primeira chance – e única até o momento – veio com Alberto Valentim no comando, na derrota alviverde contra o Vitória, na Bahia. Uma experiência que deve se repetir com mais frequência na próxima temporada, quando o técnico será Roger Machado.
– Na hora foi um susto, quando me falaram que eu ia ser relacionado. Na hora liguei para minha mãe e contei para ela. Depois fui conversando e me acalmando. Com quem eu mais conversei foi o Michel Bastos, nós ficamos no mesmo quarto. Ele é um cara rodado, me deu muita tranquilidade para ir para o jogo – diz o jogador.
Internamente, a diretoria aposta na evolução de Fernando e prevê uma presença cada vez mais frequente no time de cima. Mas há preocupação para não pular etapas e atrapalhar a formação final do atacante, um dos destaques do time campeão paulista da categoria em 2017.
A próxima etapa do Verdão e do atacante será a disputa da Copa São Paulo, em janeiro. Depois de uma temporada com ótimos resultados na base, o Verdão inicia o torneio sub-20 apontado como um dos favoritos ao título.
Para o jogador, a oportunidade de ter convivido com o elenco profissional na Academia de Futebol o fez amadurecer mais rapidamente. Mas, mesmo com a expectativa de ser promovido, ele prega calma e foco na disputa por mais um título pelo Verdão na base.
– Eu senti diferença grande depois que comecei a treinar no profissional, fui amadurecendo. Isso me deixa mais solto para jogar, a ter tranquilidade e personalidade. Quero fazer meu papel na Copa São Paulo. Quero ir bem para conquistar um lugar no time de cima. Mas precisa esperar a hora certa – conta o atacante.
– Nosso time vem de um ano muito bom. Por ter sido campeão paulista e ter chegado à final da Copa RS dá mais possibilidades de acreditar. Estamos mais confiantes para disputar essa Copinha e conquistar um título inédito – completa.
Fonte: Globoesporte.com