Passadas oito rodadas do Campeonato Paulista e três fases da Copa do Brasil, o primeiro semestre vai afunilando para o São Paulo com a proximidade dos jogos decisivos. E pelo menos para o volante Jucilei, um dos reforços para a temporada, o primeiro já é neste sábado, às 16h, no Morumbi, contra o Ituano. A fase ainda é classificatória, o adversário é modesto, mas o jogador espera que seja o início de uma sequência para não sair mais.
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Jucilei, que volta ao time titular após ser preservado na quarta-feira contra o ABC-RN, disse que está perto de sua forma física ideal e que chegará “voando baixo” nos momentos decisivos deste início de temporada. Depois de atuar em parte de três jogos (Novorizontino, Santo André e Palmeiras), ele acredita que agora precisa de sequência de jogos, que ele espera ter a partir deste sábado.
– Acredito que sim (hora da sequência). Para eu estar bem, ritmo de jogo nível alto, tenho de estar jogando. E acredito que vai chegar uma hora que o Rogério vai me dar mais tempo dentro de campo, me dando esse ritmo que está faltando. Eu também quero jogar muito, acredito que o Rogério também conta comigo. Tem de subir degrau de um e um. Acredito que vai chegar esse momento de eu estar na ponta dos cascos – analisou o camisa 25.
Estar “na ponta dos cascos” para Jucilei passa por dois aspectos. A questão física, que ele garante estar praticamente 100% resolvida, e o relacionamento com os companheiros. Não que seja ruim. Longe disse. É que o volante acostumou-se a ser um líder em campo e precisa de intimidade para contribuir mais com o time. Isso porque ele acredita que um dos fatores que faz o Tricolor sofrer muitos gols neste início de temporada (21 em 12 jogos) é a falta de comunicação na hora das bolas paradas. Falar mais e mudar o tipo de marcação são fórmulas propostas por Jucilei para acabar com o drama defensivo.
– Temos de cobrar, se comunicar, às vezes falta comunicação. Às vezes falta aquele cara para falar: “Não, pega ele, vai até a morte com ele”. Às vezes falta isso, porque é aquele momento em que você está descansando na área, a bola parada. E o cara vai lá, ajeita a bola, e você relaxa. E em três, cinco segundos, toma o gol – afirmou Jucilei.
Rogério Ceni também já reclamou da falta de comunicação do time e disse até que não treinará mais bola aérea, pois quanto mais treina, mais vem o gol. Falta um cara que fale mais? Um leão para dar proteção a área? Pois esse cara pode ser Jucilei, se depender da motivação do volante, que sonha em voltar à Seleção Brasileira.
Desse e de outros sonhos o jogador falou na entrevista concedida nesta sexta-feira, no CT da Barra Funda. Confira:
Já está adaptado ao Brasil? O que já pode falar desse retorno?
Adaptar-se aqui no Brasil é bem mais fácil do que se adaptar fora. Estou bem adaptado, aquela rotina de pegar o carro, ir para o treino, pegar o carro ir ao um restaurante, no shopping, no cinema com sua família. Isso não tem preço. Estou muito feliz, gostando muito, minha família também. Estou muito feliz mesmo de estar de volta
Você está morando perto do CT? Como está sendo pegar o carro? Confunde-se muito?
Não, moro em Alphaville, dá uns 25 minutos de distância. A gente joga no Waze (risos) para facilitar, fugir um pouco do trânsito. Mas de Alphaville não tem segredo, é pegar a Castelo Branco, depois a Marginal. Não tem erro.
Para o trânsito tem o Waze, mas no campo não. Como está fazendo para se readaptar ao futebol brasileiro?
Com muito trabalho, dedicação, empenho, que são importantes. Treinando forte no dia a dia, para chegar à forma física ideal e ficar à disposição do Rogério para poder jogar os 90 minutos.
Já está 100% fisicamente?
Já estou quase 100%. Está faltando também ritmo de jogo, mais ritmo do que a parte física nesse período.
Depois que você foi escalado contra o Palmeiras, esperava-se que você teria essa sequência. Por que ela não aconteceu?
Eu estava bem na partida, mas tomei a pancada no joelho, chegou a inchar bastante, estava doendo bastante, e o Rogério optou por me tirar e colocar um time mais ofensivo. Eu estava bem, não cansei os 45 minutos, pude desempenhar um bom trabalho, mas aí tomei essa pancada e me tirou do segundo tempo.
Isso também interferiu para você não ir a Natal?
Também, estava meio inchado. E pelo fato de eu ficar aqui me preparando, mantendo mais a forma física. Dois, três dias que você fica aqui, faz muita diferença. Então o Rogério optou por me deixar treinando, treinar mais para quem sabe ficar bem para o jogo deste sábado.
Essa agora é a sua sequência?
Acredito que sim, Para eu estar bem, ritmo de jogo nível alto, tenho de estar jogando. E acredito que vai chegar uma hora que o Rogério vai me dar mais tempo dentro de campo, me dando esse ritmo que está faltando. Eu também quero jogar muito, acredito que o Rogério também conta comigo. Tem de subir degrau de um e um, acredito que vai chegar esse momento de eu estar na ponta dos cascos.
O que já pode dizer do time do São Paulo?
O São Paulo está em construção, a gente vê que é um time jovem,. O Rogério tem dado muita atenção aos garotos da base, mas percebo que é um time que tem muita qualidade, bem qualificado, tem tudo para brigar por tudo que vai disputar. Mesclado, uns com mais experiência outros com menos, mas acredito que é um grupo muito forte, que vai brigar pelos títulos.
O que de melhor pode oferecer ao São Paulo?
Dentro do meu estilo, meu estilo é marcar. Marcar e jogar. Quero sempre deixar meu melhor dentro de campo, e sempre ajudar o São Paulo. É jogar forte, intensidade, com dinâmica e sempre fazer bons jogos.
Sobre seu período fora, na Rússia, Emirados Árabes e China. Você herdou algum hábito deles?
Não, não teve isso não. Nada de Rússia. Não tem nada. Lá eu comia feijão, arroz, normal. E tem muito restaurante internacional. Então para mim foi tranquilo. Fora o frio (risos). Nos Emirados a mesma coisa. China, então (risos). A cultura totalmente diferente, não tem que pegar nada de lá. E alimentação mesma coisa: feijão, arroz, uma carne, tranquilo.
Você se arriscou a comer uma das coisas exóticas principalmente na China?
Sem chance (risos). Nunca experimentei (risos). Os chineses falam que por muito tempo atrás comiam cachorro, rato, mas hoje não tem isso, não. Não rola mais isso.
Como eram seus colegas de time?
Eles comem muita sopa. Se alimentam muito mal, no meu modo de ver. Aquela sopa, água pura no dia do jogo, aquilo não alimenta. A cultura deles, a gente comendo bem, eles falam que a gente está comendo mal. Cultura é cultura (risos).
Com as pessoas dá para aprender alguma coisa?
O povo é muito fechado. A língua também não ajuda. É bem difícil nessa parte.
E a cisma do torcedor que fica preocupado porque a liga chinesa é muito fraca, e você vem jogar aqui: o que pode falar sobre isso?
Desaprender jogar bola ninguém desaprende. Eu comecei aqui no Brasil e você perde um pouco na parte física. Porque aqui a intensidade dos jogos é muito maior. Você joga quarta, domingo, quarta domingo. E lá só domingo a domingo. Então você fica um tempo sem jogar, isso é ruim. Lá você treina muito e joga pouco. Aqui você treina pouco e joga muito. Então quem sabe jogar não desaprende de um dia para o outro. Mesmo que você fique algum período fora, como fiquei seis anos, chegando agora preciso mais de ritmo de jogo. Porque desaprender, não desaprendi. Ao contrário. Peguei mais experiência, mais obediência dentro de campo. Então acredito que isso é mais coisa de torcedor, que fica com isso na cabeça. Porque se der dois passes maus, o torcedor vai lembrar “ah, tava lá na China”. Então acredito que isso é besteira.
Você está mais longe ou perto da Seleção agora?
Aqui é muito mais fácil de pegar a Seleção. O fato de você estar aqui, a imprensa, e tudo mais. A Rússia é muito mais difícil, Emirados ainda nem se fale. A China também não está passando, são horários diferentes, É difícil. Aqui o Brasil todo está vendo. Você fazendo um bom futebol, você tem grandes chances, esse é meu desejo.
Mas está muito distante?
Não. Só depende de mim. Depende do meu trabalho, do meu desempenho dentro de campo. Acredito que você estando bem, a oportunidade vai chegar e é aproveitar. Tenho idade para isso, então é trabalhar.
Você já pode ser considerado protagonista no São Paulo?
Quando eu saí, tinha 21, 22 anos. Era bem jovem e hoje estou com muito mais experiência, trabalhei com treinadores europeus. A experiência você adquire no campo. Hoje sou muito mais experiente do que antes, vou pelos atalhos do que fica correndo o tempo todo. Naquela época você tinha muito mais pulmão, e hoje você vai mais pelos atalhos. Não que você vá correr menos, mas você fica mais malandro dentro de campo. É a experiência. Então acredito que estamos no caminho certo.
O time sofreu gol em dez jogos consecutivos, sete de cabeça no ano. Para o volante marcador, protetor da zaga, incomoda muito esses números?
O São Paulo é um time grande, muito grande. Então incomoda. Claro que incomoda. Mas isso só pode ser mudado com muito trabalho, a gente mesmo tem de se cobrar. E quando tiver um escanteio, se cobrar: “pega esse!”. Cobrar, se comunicar, às vezes falta comunicação. às vezes falta aquele cara para falar “Não, você pega ele, vai até a morte com ele”. Às vezes falta isso, porque é aquele momento que você está descansando na área, a bola parada. Porque o cara vai lá, ajeita a bola, e você relaxa. E em três, cinco segundos você toma o gol. Então você tem de estar atento, ligado, ligado! Aquele momento ali é o mais perigoso. É o que os caras treinam a bola. A gente também treina. Então incomoda, sim. Mas a gente só vai mudar isso com muito trabalho. Eu acredito que todos sabem que têm de melhorar. E vai chegar a hora que não vamos sofrer mais gols.
Esse cara para falar pode ser você?
Pode. Eu gosto de falar também. Mas acredito que tem outros dentro do grupo que com experiência pode falar também.
Quanto mais gente falar, menos a chance de acontecer as falhas?
Muito menor. Você tem de estar ligado. Tem de falar, falar, falar! Futebol tem de ter comunicação. Senão, time de mudo, pô? Para cobrar, dar um esporro no outro. Somos uma família. Tem de ter cobrança. O cara tem de entender que é para o bem do time. Ali, acabou no vestiário, todo mundo é amigo. É para o bem do São Paulo. Para ganhar os três pontos.
Como o grupo te recebeu, você já está à vontade para falar dessa forma se precisar?
Estou bem à vontade. Fui muito bem recebido. Tudo, diretoria, comissão, jogadores. Estou bem à vontade mesmo, me dão bastante liberdade, até mesmo para falar. O Rogério pede para falar bastante, eu falo. Então estou falando. Não falo tanto como costumo falar. Estou me soltando. ÀS vezes você fica meio preso para falar, porque não tenho tanta intimidade. Mas aí a gente vai adquirindo no dia a dia.
O Rogério disse depois do jogo contra o ABC-RN que não vai treinar mais bola aérea, porque quanto mais treina, e toma o gol. Lugano acha que até chama gol essa pressão. O que você acha disso?
A gente costuma falar que treinar é sempre bom, né? Treinar é sempre bom. Mas já que ele falou isso, podemos fazer um teste. Não treinar um dia, ir para o jogo e todo mundo se cobrar dentro da área, cada um pegar o seu e ir firme na bola.
Então o trabalho vai ser mais falado?
Mais na lábia. Cada um pega o seu e não tem mistério.
Você é a favor da marcação individual então?
A individual é boa. É que o Rogério faz uma parte por zona, e dois três fora marcando individual. Então, é bom marcar assim também, porque tem aquela cobrança, apontação (sic!) de dedo. Foi ciclano, foi beltrano. E a zona não. Se errar, você vai ser cobrado, se for individual. Você já pensa que seu jogador não pode tocar na bola, então vou até o final com ele. Acho melhor assim.
E foi assim que você aprendeu a jogar futebol? Desde a várzea é assim?
Tem de aprender. Cada um no seu. Não tem outro. Está dentro da área marcando? Cada um pega o seu. Não tem mistério.
Agora vai começar a sequência decisiva, de reta final do Paulista, início de Sul-Americana, Copa do Brasil. E nesta sequência, você vai reencontrar o Corinthians, no clássico do próximo dia 26. Como será esse reencontro?
O Paulistão está afunilando agora. Mais cinco jogos acaba. Aí vamos para o mata-mata. Se encontrar, vou dar meu melhor, honrar a camisa do São Paulo. Hoje sou São Paulo Futebol Clube. Vou honrar, vou dar meu melhor. E espero sair com a vitória.
Dá para dizer que você vai chegar ao seu condicionamento ideal na hora certa?
Vai dar tempo. Vai dar para chegar. Eu preciso de jogo. Preciso jogar, de ritmo. Mas acredito que na parte final você estar 100% já e voando baixo.
Se você for bem, o torcedor vai querer que você fique mais tempo aqui. Mas você só tem um ano de contrato. Como você vai fazer?
Não depende só de mim, né? Depende de um monte de coisa. Do Shandong liberar, pois tenho contrato ainda. Depende. Estou feliz aqui, apesar do pouco tempo. Estou bem adaptado. E quem sabe? Depende de Deus. Está na mãos de Deus. Se tiver de voltar, está bom também. Mas espero nesse período fazer um bom campeonato e quem sabe entrar para a história aqui no São Paulo.
Se você estiver indo bem, com chance de Seleção, e tiver de volta para a China faltando seis meses para a Copa do Mundo, isso não pode te atrapalhar?
Pode. Mas primeiro eu tenho de ir bem, jogar. Fazer um bom trabalho dentro de campo. Se eu ficar aqui e não fizer um bom trabalho… Tenho de fazer um bom trabalho e as coisas vão acontecendo ao natural.
Por que o torcedor tem de ir ao jogo neste sábado?
Espero ter um bom público amanhã. O time precisa dessa força, está chegando reta final do Paulistão. Espero que todos compareçam, nos apoiem, que a gente dê a vitória e faça essa torcida feliz.