O desenho Atom Ant [em português, Formiga Atômica] ganhou os lares da Turquia no século passado. Exatos 60 anos após o lançamento da obra, um brasileiro devolveu as lembranças do personagem aos turcos, ou pelo menos para os que torcem pelo Göztepe. Trata-se de Juan, campeão da Copa do Brasil e Supercopa pelo São Paulo.
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No país desde agosto de 2024, o atleta nascido na capital paulista alcançou o reconhecimento sonhado na cidade de Izmir e recebeu o nome do personagem em referência à sua entrega dentro de campo.
“Minha relação com o torcedor tem sido algo muito positivo. Eles são fanáticos; o que eles querem é que você entregue o seu melhor. Tenho feito isso desde que cheguei. Quando não sai o gol, a gente vai na raça. Eles me apelidaram aqui como um cara trabalhador: Atom Ant. Me apelidaram de forma carinhosa e eu, rapidamente, entrei na brincadeira. No dia a dia, consigo sentir esse afeto, o qual, de fato, as pessoas demonstram ao valorizar o meu trabalho”, conta em conversa com o Terra.
No Morumbis, o atacante até teve oportunidades em jogos importantes e foi fundamental nos clássicos contra Palmeiras e Corinthians na campanha vitoriosa da Copa do Brasil. Ainda assim, não era o suficiente para ter o protagonismo desejado por ele.
Mesmo ciente de seu potencial, Juan também reconhecia a dificuldade de desbancar a titularidade de Jonathan Calleri, ídolo do São Paulo. A concorrência, porém, nunca impediu o garoto de tirar lições da convivência com o argentino.
“Calleri é um cara que eu tive muitas conversas, até por ele ser da posição e ver o meu trabalho diariamente. Ele sempre citou que as coisas na vida dele não aconteceram de forma tão rápida. [Falava] para eu continuar trabalhando firmemente todos os dias, me dedicando e tendo cabeça boa e paciência. Consciente de que isso que estou vivendo iria chegar”, recorda.
Com a camisa tricolor, o seu melhor momento foi com a chegada de Dorival Júnior. Àquela altura com propostas na mesa para deixar a equipe que o revelou, uma conversa com o treinador o fez sentir a confiança de que seria utilizado.
“Ele teve um impacto muito grande [para a conquista da Copa do Brasil]. Quando ele chegou, as pessoas duvidavam muito. Você abria qualquer site e as pessoas falavam que ele estava regredindo na carreira. Ele chega num momento determinante, um momento que todo o grupo necessitava. Ele é muito mais que um treinador, ele sabe lidar e recuperar a confiança do atleta. Consequentemente, todo mundo acaba correndo aquele 5% a mais pelo cara. Muitos falam que ele é paizão, naquele momento precisávamos disso. Ele chega e complementa o trabalho que o grupo já vinha fazendo”, lembra sobre a chegada do treinador.
Em meio aos ensinamentos e títulos, Juan optou por deixar o clube que o revelou em agosto do ano passado, já perto do fim do contrato. Embora tenha sido vendido ao Southampton, o centroavante sequer chegou a vestir a camisa do clube britânico e logo foi emprestado ao Göztepe.
A mudança de mais de 10 mil quilômetros de São Paulo para İzmir foi apenas mais uma na vida do jogador, que rodou por inúmeras categorias de base do futebol paulista durante a infância. Esse costume fez a adaptação ser mais tranquila do que o esperado, embora reconheça que a esposa não pode dizer o mesmo ao ter que reiniciar a vida longe de São Paulo para acompanhá-lo.
Mesmo com a facilidade para se sentir em casa, se engana quem pensa que Juan não viveu seus perrengues na Turquia. A maior dificuldade foi em relação ao idioma, principalmente para tomar seu amado café.
“Eu tomo bastante café, estou acostumado com adoçante. Para falar adoçante em turco é muito difícil. Eu falava em inglês, ninguém compreendia. Vi que a única solução seria aprender a falar em turco. Tive que me virar, a palavra é’ tatlandırıcı’. Imagina a luta que é para pedir um adoçante. Toda vez eu tenho que falar, repetir, e depois falo com calma. Quando não dá certo, vou pro tradutor. É muito difícil”, brinca.
Além das aventuras fora de campo, o ex-atacante do São Paulo precisou lidar com a mudança do estilo de jogo. Diante de um estilo que considera mais de transições, Juan chegou a conversar com dirigentes e treinador sobre o processo que teria para se adaptar ao campo.
Esse reconhecimento de que precisaria se adaptar fez com que o brasileiro se tornasse um jogador mais completo do que quando deixou o São Paulo. Após uma temporada com sete gols, três assistências e uma série de lesões em 27 jogos, ele montou seu próprio time de preparação e se tornou um dos destaques do Göztepe. Com cinco bolas na rede em 11 jogos nesta edição do Campeonato Turco, ele ajudou a colocar a equipe na briga por uma vaga em competições europeias.
“No São Paulo, eu já tinha trabalhos paralelos, como os de nutrição. Mas, no momento que vim pra cá, esse pensamento amadureceu um pouco mais. Hoje eu tenho a minha própria equipe. O mental coach e o trabalho físico são apenas uma parte, tenho também o suporte de análise tática e de nutrição. Comecei a partir de quando entendi o que buscava. Muitos querem jogar em alto nível, mas poucos fazem por onde. É um passo a passo. Sou novo e tenho potencial, sei onde quero chegar”, completa.
Em alta no futebol europeu, Juan quer aproveitar o momento e continuar marcando gols para seguir realizando sonhos dentro e fora de campo.
Fonte: Terra