O último ano sem um campeão brasileiro na CONMEBOL Libertadores foi 2018. Desde então, o troféu foi erguido por Flamengo (duas vezes), Palmeiras (duas vezes), Fluminense e Botafogo. Falar em “hegemonia” do Brasil no torneio é a constatação de um fato. Palmeiras e Flamengo são novamente semifinalistas em 2025 contra LDU (Equador) e Racing (Argentina), mas os equatorianos têm um aliado brasileiro: Tiago Nunes.
Há treinadores sul-americanos espalhados pelo mundo todo; os argentinos, por exemplo, estão em todos os mercados possíveis. O Brasil é diferente. Com exceção de alguns como Luiz Felipe Scolari, Paulo Autuori, Sylvinho e André Jardine, o país historicamente não é um exportador de técnicos para Europa e outros clubes latinos.
Por isso, muito antes de enfrentar o Palmeiras na semifinal da Libertadores 2025, Tiago Nunes decidiu desafiar a si mesmo deixando para trás a boa e velha “zona de conforto”.
“Eu queria dar outro salto e experimentar outro caminho”, contou ele à FIFA. “Se quero ser um treinador internacional, primeiro preciso ser um treinador reconhecido no meu próprio continente. E, quem sabe, a longo prazo, atravessar o Atlântico [para clubes da Europa].”
“Se em algum momento eu servir de referência para outros brasileiros, ótimo. Mas nunca fiz algo para inspirar os outros. Eu sempre tentei combater meus próprios fantasmas porque saí de uma cidade pequena, não joguei futebol profissional, rompi a bolha e cheguei a esse nível. É uma luta diária com os meus fantasmas para provar que é possível”, acrescentou.
Ele tem superado esses fantasmas há alguns anos. Embora tenha chegado à LDU em junho, sua missão fora do Brasil começou em 2022 ao assinar com o peruano Sporting Cristal. Três anos depois, em 2025, ele já eliminou dois clubes brasileiros no mata-mata continental: o atual campeão Botafogo nas oitavas de final e o tricampeão São Paulo nas quartas. Antes, na fase de grupos, sua equipe liderou o Grupo C e ficou acima do Flamengo.
Não são feitos pequenos, pelo contrário, e agora ele tentará superar mais um time brasileiro na primeira semifinal de Libertadores da LDU em 17 anos. O próximo adversário será o Palmeiras, cujo histórico recente virou referência na América do Sul inteira. Para se ter ideia, os palmeirenses disputarão a semifinal continental pela quinta vez em seis anos – ou seja, desde que o treinador português Abel Ferreira assumiu o comando da equipe.
Na visão de Tiago Nunes, a LDU terá de mostrar uma mentalidade igualmente forte para competir com o Palmeiras nas semifinais em 23 e 30 de outubro. Quem sair vitorioso no placar agregado (ou nos pênaltis) enfrentará na final o vencedor do confronto entre Flamengo e Racing, e vale lembrar que o campeão da Libertadores terá vaga na Copa Intercontinental da FIFA 2025™ e no Mundial de Clubes da FIFA 2029™.
“O Palmeiras como um todo é muito forte, isso não é novidade. Nos últimos quatro ou cinco anos, é o clube mais estável e competitivo da América do Sul. A mentalidade será o fator mais importante. A gente quer estar na final e superar nosso rival, e aí temos nossas armas e dinâmicas para tentar fazer isso de forma”, avaliou o técnico.
“É um trabalho duro porque é difícil superá-los. Mas, ao mesmo tempo, o Palmeiras é um time de futebol disputando um jogo desportivo, que tem muitas variáveis que não dependem de nós, jogadores ou treinadores. Essas variáveis dependem de circunstâncias que somente o futebol nos apresenta. A velha crença sobre 11 contra 11 se repete”.
Depois de eliminar o São Paulo nas quartas, Tiago usou uma frase forte para falar sobre a diferença de poderio financeiro entre os times do Brasil e do Equador: “Dinheiro não compra o coração ou um sonho”. Segundo ele, o elenco atual da LDU tem muita fé e vontade.
“A história está cheia de exemplos de times e pessoas que contrariaram previsões e superaram barreiras. Não acontece sempre, mas o futebol não é um jogo matemático. Nosso elenco parece uma família, e foi isso que nos manteve vivos até aqui na competição. Não sei se vai ser suficiente para passar pelo Palmeiras, mas ninguém vai nos tirar o sonho”, afirmou.
O treinador reiterou que o clube equatoriano não pode ser subestimado – aliás, o time não pode subestimar a si mesmo. Até aqui, a trajetória tem sido tão grandiosa quanto a própria LDU, campeã da Libertadores em 2008. “Precisamos entender quem somos”, disse ele.
Neste momento, na entrevista com a FIFA, Tiago apontou para o escudo da LDU em sua camisa e mostrou as estrelas que representam cinco títulos internacionais (uma Libertadores, duas Sul-Americanas e duas Recopas). No Equador, não é por acaso que o clube é chamado de Rei de Copas: “A gente nunca olha para um rival de cima para baixo, e muito menos olha de baixo para cima.”
“Em um clube desse tamanho, você não pode pensar menos do que brigar pelo topo porque alguém já chegou lá antes. A menos que a gente saia campeão da Copa Intercontinental ou do Mundial de Clubes, todos os demais títulos já foram conquistados. A menos que a gente seja campeão do mundo um dia, nenhuma conquista será nova”, explicou.
Falando em Intercontinental e Mundial de Clubes, Tiago admitiu que seria um sonho ver a LDU em uma competição global da FIFA, mas deixou claro que nem pensa na possibilidade de disputar esses torneios porque ainda tem adversários poderosos em seu caminho até o sonhado título da Libertadores. Ele respeita os rivais e, de quebra, controla a própria ansiedade dando um passo de cada vez.
“O sonho sempre existe, é claro. A gente sempre sonha em disputar as principais competições do mundo, mas eu não projeto isso agora porque acho que nem é prudente. Eu prefiro viver um dia por vez e tentar encontrar minha melhor versão e desfrutar do futebol. Um treinador passa tanto tempo tentando sobreviver que acaba sentindo mais alívio do que prazer. Às vezes, é preciso desfrutar do futebol e do momento”, concluiu o comandante da LDU.
Fonte: FIFA