Fernando começou a ficar ansioso em Belo Horizonte no último fim de semana. Sabia que no domingo, às 20h30, pisaria no gramado do Mineirão com a camisa do Red Bull Bragantino. A partida contra o Cruzeiro seria a primeira dele como profissional no estádio, mas a ansiedade não era apenas por isso. Havia uma camada a mais para o momento ser aguardado e especial.
Fernando nasceu na capital mineira e, nos arredores do Mineirão, a mente dele remonta a 2015, quando tinha 16 anos. O entorno do estádio era onde ele e o pai vendiam tropeiro, um prato típico de Minas e apreciado por torcedores que vão aos jogos no Mineirão. Agora, dez anos depois, o atacante chega ao estádio para entrar em campo.
– Vai ficar marcado na minha carreira. Com 16, 17 anos, eu estava ali vendendo tropeiro com meu pai – disse Fernando.
– Poder jogar no Mineirão é algo inesquecível para mim. Antes do jogo, bateu uma ansiedade. Acabei não acreditando. Chegamos ao Mineirão e veio aquela lembrança de quando vendia tropeiro. Comecei a ficar muito emocionado. Alguns da minha família não tiveram a oportunidade de me ver jogar pessoalmente desde que saí para a Europa, e agora estavam presentes ali. É um momento que vai ficar marcado para sempre – afirmou o atacante, em entrevista ao ge.
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Atacante Fernando ao lado do pai, José Pedro, vendendo tropeiro em Minas Gerais — Foto: Arquivo pessoal
O pai de Fernando, José Pedro, foi um dos familiares que esteve no estádio para assistir à partida. O resultado não foi bom para o atacante do Bragantino. O Massa Bruta foi derrotado por 2 a 1 pelo Cruzeiro, em jogo válido pela 24ª rodada do Brasileirão. Apesar disso, o dia também foi especial por ver o filho realizando o sonho de ser jogador em um local que faz parte da história dos dois.
– É um sonho, é louco. Às vezes, a gente trabalhando, via a torcida chegando com o ônibus, aquela multidão toda. Eu olhava para ele e falava: “Olha você aí”. Na brincadeira, ele já estava treinando, mas a gente não tinha essa expectativa. A gente tinha o sonho, mas quem sabe, né? É o sonho da maioria dos pais, ver o filho da gente bem. É uma experiência boa – destacou José Pedro.
Vai um tropeiro aí?
José Pedro tinha carrinho de lanche durante a infância e a adolescência de Fernando. Costumava vender tropeiro no Parque Municipal de Belo Horizonte ou nos arredores do Mineirão.
Aos 16 anos, Fernando começou a ajudar o pai nas vendas.
– Para mim, foi bom. Eu gostava muito de ajudar meu pai. Até para ganhar um dinheiro. Na oportunidade que eu tinha de ir ao Mineirão, eu ia. Estudava de segunda a sexta. Sábado e domingo, aproveitava para trabalhar com meu pai. Eu gostava muito de estar ali, viver aquele momento. Quando todo mundo entrava no estádio, eu assistia aos jogos. Era uma rotina muito boa para mim – contou.
– Com 16, comecei. Eu não estava em nenhum time. Então, era a rotina mais tranquila. Sempre tinha a oportunidade, eu ia. Com 17, eu já estava na AMDH, que hoje é Betim. A rotina já era um pouco mais difícil de ir. Ia mais no domingo, porque tinha a rotina de treino. Meio de semana era mais difícil. A gente jogava os campeonatos no sábado. No domingo, eu queria ajudar ele no parque municipal ou no Mineirão – acrescentou.
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Fernando, à direita, no gramado do Mineirão no último domingo — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Aos 16 anos, Fernando já sonhava com a carreira nos gramados. Mas, enquanto estava no carrinho vendendo com o pai, diz que pouco conversava sobre esse assunto. Imaginava ser uma reviravolta muito grande para ser possível de acontecer. Mas o sonho era alimentado quando estava em casa, nas conversas. E a reviravolta, por mais difícil que a mente de adolescente pudesse imaginar, aconteceu.
Palmeiras, Europa e Bragantino
Fernando começou a jogar em equipes de Minas Gerais e, em 2016, chegou à equipe sub-17 do Palmeiras. Terminou a formação no Alviverde e chegou ao profissional. Porém, foram apenas dois jogos com o time principal da equipe do Palestra Itália. Em 2018, uma proposta de cinco milhões de euros do Shakthar Donetsk, da Ucrânia, o levou para a Europa.
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Fernando comemora gol do Palmeiras na Copinha — Foto: Fabio Menotti/Palmeiras
O atacante defendeu o Shakthar por quatro temporada e, durante esse período, teve um empréstimo para o Sporting, de Portugal. Na temporada 2022/23, foi vendido pelo Shakthar ao RB Salzburg, da Áustria.
Foram duas temporadas no time austríaco até ser contratado pelo Bragantino no começo deste ano. O jogador chegou ao Massa Bruta com uma lesão na coxa e, por isso, não atuou nos primeiros jogos da temporada. Durante o Campeonato Paulista, entrou em algumas partidas, mas logo foi novamente para o Departamento Médico para tratar uma tendinite patelar no joelho esquerdo.
Foram cerca de cinco meses longe dos jogos, até voltar a ser relacionado em agosto. Na partida contra o Cruzeiro, no último domingo, 21, o atacante entrou aos dez minutos do segundo tempo.
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Fernando, atacante do Bragantino — Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
– Fisicamente, estou me adaptando. Não estou 100% ainda. Mas, com os treinos e entrando alguns minutos, com o Cruzeiro joguei mais tempo, isso vai me fazendo ficar bem fisicamente. Estamos tendo muita paciência pelo longo período que fiquei afastado. Então, isso vai fazer eu continuar bem e, daqui a pouco, estar 100% – comentou Fernando.
O atacante diz que o foco, no momento, é estar bem fisicamente para poder ajudar o Massa Bruta. Após a Copa do Mundo de Clubes, o Bragantino teve queda de rendimento. Atualmente, a equipe está na nona colocação do Brasileiro, com 31 pontos.
– Começamos o Brasileiro muito bem. Essa pausa, acho que fez a gente desacelerar um pouco. Mas estamos fazendo bons jogos, mas o resultado não está vindo. É continuar trabalhando que, daqui a pouco, com certeza vamos conseguir voltar a vencer novamente – afirmou.
Fonte: GE