Zagueiro, 1’86m, mas jeitão simples, de quem foi criado em meio aos aprendizados na mercearia do pai, no interior paulista. Bruno Alves não pode ser chamado de promessa aos 27 anos, mas o momento na carreira é de ascensão e torna inevitável os sonhos que o futebol pode proporcionar. Tranquilo, com os passos soltos, de quem já se sente em casa no CT da Barra Funda, Bruno Alves tem um objetivo traçado no São Paulo.

“A gente sabe o que o clube vive por não estar conquistando título. Eu brinco bastante dizendo que ali (na área interna do CT) tem os quadros com todos os jogadores que já foram campeões. Meu objetivo é colocar minha fotinha ali também, dentro da secretaria, nos quadros que têm os campeões. Buscar título com o São Paulo, no Morumbi lotado, com certeza é meu maior desejo no São Paulo”, revela, em papo exclusivo com a reportagem da Gazeta Esportiva, à beira do campo.

“E na carreira é buscar a Seleção Brasileira. Todo jogador sonha, a gente está em um grande clube, então, não custa nada sonhar. Vamos trabalhar com humildade, dedicação. Quem sabe um dia a gente não chega lá”, completa, certo de que pode alcançar seus desejos sem, necessariamente, ter de brilhar no Velho Continente.

“O São Paulo hoje é uma grande equipe mundialmente. Acredito que fazendo um bom papel aqui, jogando, conquistando título, as portas vão se abrir para um monte de coisas. Lógico que uma delas pode ser a Europa, sim, mas eu acredito que antes disso, pelo tamanho que é o clube, pela repercussão, você pode buscar outros caminhos com a camisa do São Paulo, sim”.

Nessa terça, talvez com Bruno Alves em campo, pois a imprevisibilidade de Diego Aguirre segue implacável, o Tricolor Paulista tem a chance de assumir a vice-liderança provisória do Campeonato Brasileiro frente ao Vitória, no Morumbi.

A distância para o Flamengo pode ficar em apenas três pontos ao fim da 12ª rodada. E o retorno das atividades pós-Copa do Mundo prevê justamente um embate entre são-paulinos e rubro-negros no Maracanã. O cenário aparenta dificuldade, mas também pode ser encarado como oportunidade, principalmente para quem não tem medo de se lançar candidato ao título .

“A gente montou um elenco bastante qualificado, a gente tem, sim, condições de estar brigando por títulos. A gente procura manter os pés no chão, sabendo que nossa meta é se manter no G4, perto dos líderes, mas sabemos que no decorrer do campeonato temos totais condições de chegar no final do ano, dar uma arrancada e buscar o título”, garante o beque, com fé na atitude mostrada em campo até aqui.

“Pode ter time que corre igual a gente, mas, mais eu não vi, porque nossa entrega, dedicação estão sendo fundamentais. Somos um time bastante difícil de ser batido. Em 11 jogos só temos uma derrota. Estamos, sim, pensando em coisas grandes”.

Na atual temporada, apesar do rodízio intenso do treinador uruguaio que comanda o São Paulo, Bruno Alves não pode reclamar de falta de ritmo. São 19 jogos, 15 a mais do que conseguiu fazer em 2017, ano que chegou ao clube depois de um longo tempo no Figueirense.

Aliás, a vida em Florianópolis era bem mais solitária do que a rotina atual de Bruno Alves. Ter voltado ao seu Estado de origem reaproximou o contato familiar e a relação com os amigos de infância, todos oriundos de Jacareí, onde o zagueiro morou até os 17 anos.

Agora, o problema é bancar uma caravana particular em todos os jogos do clube no Morumbi. Em campo ou no banco, não há exceção, e a turma de Jacareí não está nem um pouco preocupada com os cerca de 110 km que separam o estádio tricolor da pequena cidade do interior, ou com as quase quatro horas na estrada.

“Geralmente vem dois ou três carros, 15 pessoas no mínimo para assistir aos jogos, porque só da minha família são dois carros, ainda tem os amigos. E eu tenho que conseguir os ingressos. É uma briga para conseguir essa quantidade de ingressos, e ainda tem de pagar gasolina e pedágio de todo mundo. Mas é um momento bom e feliz que eles estão acompanhando”, conta o jogador, entre gargalhadas com ar de satisfação. “Agora todo mundo virou são-paulino, até meus amigos que antes não eram e agora torcem por mim”.

O vínculo de Bruno Alves com o São Paulo só vence em dezembro de 2020. É impossível prever qual será a condição do jogador até lá, seu status no clube ou no futebol, mas é fácil perceber as mudanças, tanto dentro como fora de campo, que o atleta apresenta depois de menos de um ano convivendo com o peso que defender as cores da camisa tricolor.

“Eu me sinto hoje bem mais à vontade, bem mais confiante, pelos jogos que eu venho fazendo, tenho tido sequência, isso é importante. Ano passado foi bom eu ter chego no meio do ano, por mais que fosse um período turbulento no clube, foi bom para eu absorver essa pressão, absorver a energia que passava aqui no clube, ver como o clube funcionava, para eu me enquadrar. Foi importante para esse ano eu começar mais confiante”, avalia, com a humildade suficiente para ter autocrítica, perceber e admitir que suas limitações eram maiores à época de sua apresentação.

“Eu acho que evoluí bastante na hora de sair jogando. Sou um zagueiro que procuro fazer o simples, mas aqui no São Paulo eu passei a sair jogando, achar o passe entre as linhas. Melhorei muito minha força, minha impulsão, meus amigos até brincam dizendo que eu não saltava assim. Eu acho que melhorei bastante tecnicamente e no quesito de força”.

Em pouco tempo de conversa é fácil perceber a sinceridade de Bruno Alves em suas respostas. E o maior sintoma disso nessa entrevista foi a confissão do zagueiro sobre a tensão que tem sido assistir de dentro do campo os gols de pênalti marcados por Nenê. No sábado, de novo o camisa 7 foi fatal de uma forma nada tranquila. Caprichosamente, a bola passou por baixo do goleiro atleticano, suficiente para dar ao São Paulo a primeira vitória na Arena da Baixada na história do confronto com os paranaenses.

“A gente falou no vestiário, sim. Ele quer matar a gente do coração. A gente que joga ali atrás fica torcendo para os caras fazerem os gols lá na frente. Eu estava bem atrás na hora que ele bateu, eu vi o goleiro pulando e falei ‘meu Deus’, mas aí vi a rede balançando e fiquei feliz. Pênalti bem batido é o que entra”, diz, segurando o riso. “Ele bate rasteiro, gramado molhado, dificulta. Se ele tivesse batido meia altura provavelmente ele ia perder”.

Confira outros trechos da entrevista exclusiva com Bruno Alves, zagueiro do São Paulo:

Redes sociais

“Eu fico feliz com o carinho dos torcedores. Eu vejo algumas coisas, sim, em respeito ao meu nome. É furto de um trabalho feito com muita dedicação. O torcedor quer ser representado dentro de campo e a gente procura fazer isso, treinar bem, sempre estar se dedicando ao máximo”.

Titularidade

“Me vejo pronto e preparado, mas não titular, até porque o Aguirre fala que não tem um time titular, e sim um elenco qualificado em que ele pode contar com todos”.

Vitória na Arena da Baixada

“Assim, sabíamos do tabu que tínhamos pela frente e a importância do jogo para o campeonato. Fizemos um bom jogo, buscamos a vitória, foi importante, o grupo ficou bastante fez, e isso nos traz confiança”.

Rodizio do elenco

“A gente sabia da filosofia que o Aguirre trabalhava, em outros clubes ele adotava isso também. A gente se adapta ao treinador. Eu, particularmente, não vejo problema”.

Sistema tático

“São opções. Ele treina no 3-5-2, 3-4-3, 4-3-3, 4-1-4-1. Isso é bastante importante, o São Paulo fica muito rico em variações para confundir os adversários. A gente joga em uma linha de quatro, mas no meio do jogo pode trazer o Militão para zagueiro e empurrar o Reinaldo, já fizemos isso em alguns jogos: contra o Fluminense e o Atlético-MG, por exemplo”.

Jogo dessa terça

“A gente não sabe quem vai iniciar, mas independente de quem jogar a gente espera fazer um grande jogo, repetir as boas atuações em casa, para encostar no líder, que é o Flamengo”

Fonte: Gazeta Esportiva Net