Era simples a missão do André: sair da quadra onde dava aulas de futsal para garotos de Osasco, dirigir uns 800 metros e passar na casa do Éverton para avisar que haveria jogo no dia seguinte. O Éverton tinha faltado ao treino e estava jogando golzinho com a molecada da rua. No meio dos garotos de 9, 10, 11 anos, um menorzinho fazia o diabo com a bola.

Onze anos depois, André Luis Alves da Silva ainda lembra com clareza da cena e do que o deixou impressionado:

– Primeiro, com o tamanho dele no meio dos meninos. E, segundo, com o controle de bola que ele tinha.

O professor tomou algumas providências imediatas. Convenceu os pais do menorzinho a liberá-lo para participar dos treinos na quadra de futsal ali perto. E tratou de inscrevê-lo num campeonato entre escolinhas de Osasco. Aos 6 anos, ele já arrebentava em meio a rivais e companheiros de time com muito mais idade. Exatamente como acontece até hoje.

O menorzinho se chamava Rodrygo. E dava mais trabalho ao professor do que aos garotos que tinham a missão de marcá-lo.

– Em alguns jogos, ele pegava a bola e driblava dois, três, quatro. Não adiantava eu pedir para ele tocar, ele fazia o gol. Fazia o lance, fazia o gol e acabava olhando para mim, tipo: “Pô, você tá pedindo para eu tocar a bola e eu tô resolvendo o jogo pra você”. Eu não tinha muito o que fazer.

O talento de Rodrygo logo ficou grande demais para Osasco. Foi parar no São Paulo, onde treinou no salão e nos campos. Dali foi recutrado pelo Santos, onde saltou degraus – foi direto do juvenil para o time profissional, sem nem ter jogado a Copa São Paulo de Futebol Júnior, por exemplo.

Rodrygo é hoje o único jogador nascido em 2001 a ser titular no Campeonato Brasileiro. É o jogador mais jovem da história a ter anotado um gol na Copa Libertadores. E a tática para derrotar (e escapar) de adversários mais velhos e mais fortes é a mesma que ele usava desde os 6 anos de idade, quando jogava em Osasco.

– Procurava ser o mais rápido possível. A gente sabe que vai perder no corpo por eles serem mais fortes. Então quanto mais rápido a gente fosse, menos eles iam achar a gente – lembra o jogador.

O pai, Erick Góes, foi jogador profissional. Lateral-direito, rodou por Ceará, Criciúma, Linense e outros times menores. Ainda tinha gás para continuar a carreira quando o filho despontou. Aos 32 anos, preferiu se dedicar a cuidar da carreira do filho. E o principal conselho que deu a Rodrygo foi ensinar que a vida de jogador não é só glamour.

– Hoje ele vive na pirâmide do futebol – conta Eric em entrevista por telefone.

– Está num clube grande, com estrutura. Mas a realidade de muito pai de família é passar uma parte do ano desempregado, sem saber se vai dar sustento para a família. Eu passei muito por isso, tinha que fazer conta todo mês para não faltar nada.

Rodrygo parece ter aprendido bem a lição. Das ruas de Osasco aos profissionais do Santos, quem conviveu ou convive com ele usa quase sempre a mesma expressão para descrever o atacante: “Pé no chão”. É algo longe de ser trivial para quem tem um contrato com a Nike desde os 11 anos de idade, quase foi parar no Liverpool aos 16 e tem multa rescisória de 50 milhões de euros. Para se ter ideia da precocidade, Neymar foi contratado pela mesma empresa aos 13.

Seu agente, Nick Arcuri, no ano passado foi até a Inglaterra para ouvir uma proposta do Liverpool – que acabou recusada. Agora, lida com o assédio do Barcelona. Os planos para a carreira de Rodrygo, diz Arcuri, são decididos pelo próprio jogador e pelo pai. Sem pressões.

– Ele tem potencial para ser grande, para ser titular num grande time da Europa. Mas concordamos que neste momento o Rodrygo precisa se divertir, evoluir naturalmente. Ele precisa desfrutar de jogar futebol. Tudo vai acontecer naturalmente.

Rodrygo estará em campo de novo neste domingo, quando o Santos visita o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro, no ano em que marcou cinco gols. Será sua primeira vez contra o time que ele defendeu quando tinha 8 anos.

Fonte: Globoesporte.com