“Para mim, isso [jogar futebol] é trabalho”. A frase que Rodrygo Silva de Goes, então com 11 anos, disse aos seus pais soava estranha para um garoto que naquela época apenas alimentava o sonho de se tornar jogador profissional.

Hoje, aos 17 anos, o atacante que cresceu no Santos carregando a fama de ter um talento acima do normal prova que tão precoce quanto seus sonhos são seus feitos.

Rodrygo tem contrato com a Nike desde os 11 anos. É o jogador brasileiro mais jovem a fechar um acordo com a empresa de material esportivo.

Dentro de campo, o garoto que virou titular do técnico Jair Ventura tornou-se também o mais jovem do país a marcar um gol pela Libertadores, na vitória por 3 a 1 contra o Nacional (URU). Tinha 17 anos, oito meses e seis dias.

Rodrygo está no clube desde 2011, mas, antes de se tornar um “menino da Vila”, era destaque do futebol de salão do São Paulo. A amizade com outra promessa da equipe alvinegra, o meia Lucas Lourenço, o motivou a ir para o Santos.

Rápido, driblador e goleador, nunca teve grandes casos de indisciplina, mas precisou ser doutrinado.

– Dentro da quadra, ele virava um bicho, queria ganhar a todo custo – conta José Alexandre Fiuza, o Barata, coordenador do futsal santista.

A opinião de treinadores que acompanharam a carreira da jovem estrela é que Rodrygo se cobra por cada pequena jogada não realizada.

Em casa, a preocupação para não se deslumbrar recebeu atenção rígida, principalmente da mãe, Denise.

Ele precisava cumprir uma espécie de cartilha de comportamento colocada no armário com atribuições como “cumprimentar a todos no clube, não falar palavrões, não se achar melhor do que alguém, não reclamar com o juiz”.

O pai, Eric, também foi jogador profissional. Rodou por uma série de clubes, principalmente do interior paulista, e encerrou a carreira oficialmente no último ano para cuidar da família. Ele trabalha como observador na Un1que Football, empresa que gerencia a carreira de Rodrygo.

Se o jovem é constantemente comparado a Neymar, Eric não segue o perfil de Neymar pai no gerenciamento do trabalho do filho. Apesar dos aconselhamentos, treinadores e dirigentes disseram que o ex-jogador sempre se manteve discreto nos bastidores.

Rodrygo lidera uma geração promissora do clube, conhecida internamente por “safra de ouro”, com jogadores nascidos entre 2001 e 2002.

Só ele e o atacante Yuri Alberto, parceiro de concentração e principal concorrente na artilharia de torneios, já estão entre os profissionais.

– É consenso que, de todos os que passaram por nós, é quem mais se aproxima do Neymar. Não vimos nada parecido na condução em velocidade, mudança de direção no um contra um, jogar de pé trocado – disse Barata.

O gol marcado contra os uruguaios, uma arrancada do meio de campo, acentuou as comparações com o ídolo.

– Quero ser o Rodrygo, não o novo Neymar – disse o jovem.

Diferentemente do astro do PSG, Rodrygo é tímido e evita aparições em público. Cresceu em família evangélica e ia a cultos com o pai. No Santos, frequentava as reuniões do atacante Ricardo Oliveira, que também é pastor.

Apesar da rotina marcada por concentrações, treinos e viagens, Rodrygo ainda precisa conciliar o profissionalismo com a escola. Está no terceiro ano do ensino médio da escola Azevedo Júnior, próxima à Vila Belmiro, e recebe orientações dos educadores.

– Explicamos que [ele] precisa trabalhar para a equipe, que não pode se sobrecarregar de responsabilidade nem perder a disciplina – disse a vice-diretora Eliana Maria Grossi.

Rodrygo estreou como profissional em 2017. Antes, passou por longa negociação para permanecer no clube.

– Quando teve a proposta do Liverpool para ir embora, disse para o Modesto [ex-presidente]: paga o que o menino está pedindo – afirmou Elano, técnico que lançou o atacante.

A renovação incluiu a ajuda para a compra de um apartamento para a família e aumentos por metas alcançadas.

Apesar de contar com Rodrygo, Jair Ventura acumula dúvidas no setor ofensivo para a partida desta terça (24) contra o Estudiantes (ARG), às 21h30, na Vila Belmiro, pela quarta rodada da fase de grupos da Libertadores.

Os atacantes Eduardo Sasha e Arthur Gomes não participaram do último treino e são dúvidas. A baixa confirmada é Bruno Henrique, recém-recuperado de lesão no olho direito, mas vetado pelo departamento médico santista devido a uma nova contusão, desta vez na coxa esquerda.

Na TV
Santos x Estudiantes
21h30, Fox Sports

Rodrygo

Nascimento: 9.jan.2001 (17 anos), em Osasco

Peso e altura: 63 kg e 1,73 m

Posição: atacante

Estreia como profissional: 4.nov.2017, Santos 3×1 Atlético-MG, pelo Brasileiro

Contrato: válido até 19.jul.2022, com multa rescisória de 50 milhões de euros (R$ 210 milhões)

11 anos
tinha Rodrygo quando assinou seu primeiro contrato com a Nike

Pelo Santos
19 jogos
5 gols

Passes
22, 4 por jogo
74,1% certos

Chutes a gol
1,6 por jogo
58% certos

Fonte: Folha de S. Paulo