Em início de carreira como técnico, Fabio Carille vai lidando com experiências e desafios até então inéditos no comando do Corinthians. Já ganhou de goleada, tropeçou em disputa de pênaltis, teve postura criticada por técnico adversário (Toninho Cecílio) e até ouviu as primeiras vaias na Arena.
Às vésperas de debutar em clássicos como treinador, na próxima semana, contra o Palmeiras, ele tenta afastar os primeiros sinais de pressão no comando alvinegro e reabilitar o Timão diante do Novorizontino, nesta quarta, às 19h30, em Itaquera.
Nesta terceira rodada do Paulistão, o comandante alvinegro também lidará com uma situação curiosa. Bem ao seu lado no gramado da Arena estará um velho companheiro, mas agora adversário. Júnior Rocha, técnico do Novorizontino, atuou com ele na Ulbra (atual Canoas Sport Club), em 2005, quando Carille era um zagueiro e lateral-esquerdo cheio de fôlego que nem sonhava em um dia comandar o Timão.
A vida e o futebol acabaram afastando a dupla, mas os ex-companheiros guardam semelhanças. Ambos são jovens (Júnior tem 35, Carille, 43), estudiosos e têm conceitos parecidos de futebol. A pressão no cargo de treinador, porém, é bem maior para o corintiano, como o próprio Rocha admite:
– Torço demais pelo Carille. Mas meu caso é mais fácil, pois dirijo uma equipe pequena. Estou como treinador há cinco anos, para mim é mais fácil vender a ideia para os jogadores que sonham estar em um clube como o Corinthians, por exemplo. Ele tem mais pressão, trabalha com atletas com mais bagagem e fazer esses jogadores cumprirem a função que ele quer é mais difícil. O Carille tem carreira promissora, o grande segredo é vender para os atletas o que ele quer: jogar organizado, cumprir funções como fazia com Tite… Se ele aguentar essa pressão no início, vai dar certo, pois é ótimo treinador – disse, ao LANCE!.
A amizade, porém, ficará de lado nesta noite na Arena. O Novorizontino tenta ser mais uma zebra em Itaquera, enquanto Carille fará de tudo para não encarar mais uma (desagradável) experiência: a de lidar com a ira da Fiel torcida…
– Bate-bola com Júnior Rocha, técnico do Novorizontino
Como analisa o Corinthians? Qual a estratégia para surpreender na Arena?
A gente sabe o poder do Corinthians na Arena, analisamos bem o jogo contra o Santo André. O Corinthians teve volume, mas o Santo André finalizou duas vezes e venceu. Jogar contra o Corinthians com linha baixa é esperar para tomar o gol. Não podemos mudar o nosso modelo de jogo, tenho muito respeito pelo Corinthians, mas mudar nosso modelo, que é marcar com linha alta, seria óbito. Temos de eliminar as jogadas do Corinthians no início, que é com volantes e laterais, e não mudar nosso modelo. Temos de melhorar saída de bola, transição e tentar pega-los desajustados, apertar lá em cima e fazer com que os zagueiros quebrem. O Corinthians joga de pé em pé, se dificultar, isso vai nos ajudar bastante. É uma equipe perigosa, vem com necessidade de ganhar, e temos de suportar o abafa. Não adianta tirar pressão se defendendo, temos de jogar, ter iniciativa, construir jogadas, temos nossas movimentações treinadas, transição rápida, mas precisamos de nível de concentração alta.
Vê a vitória do Santo André como exemplo?
O que aconteceu no Corinthians x Santo André é difícil no futebol, se defender, defender, Corinthians perder pênalti… Corinthians cruzou quase 40 bolas. Para isso não acontecer com a gente, temos de matar lá em cima
Como tem visto a chegada de novos treinadores? Você e o Carille são jovens…
Isso é uma realidade, já renovou, temos uma safra nova, e a partir de agora isso vai aumentar. O Botafogo também tem um técnico jovem… Nas Séries A, B, e C, a maioria dos técnicos é jovem, é o ciclo da vida, isso é bom, o pessoal está estudando bastante, vemos várias equipes organizadas. Temos de estar preparados
Quais as lições que leva do Luverdense? Em 2013 você conseguiu vencer o Corinthians quando estava lá.
Lá também tínhamos uma equipe organizada e comprometida. O segredo no futebol para enfrentar grandes de igual é organização e comprometimento tático, é o que tento implantar aqui, fazer o jogador pensar o jogo, não correr errado, ocupar espaço, ter transição melhor, posse de bola, movimentação treinada… Isso tem dado certo. Os jogadores estão muito felizes com o modelo de jogo, é só você ver a dificuldade do Eduardo (Baptista, do Palmeiras) e do Carille, não é fácil, é com repetição, dia a dia. Estou muito feliz de estar em São Paulo e treinar um time montado do zero. No Luverdense tínhamos sempre uma base, e levo isso como lição
Como vê esse novo desafio depois de quatro anos no Luverdense?
O Paulista é um campeonato mais difícil, aumentou a verba, então se investiu mais e melhor. Me vejo como um treinador jovem, promissor, que tem muito a dar pela frente. Para mim é um desafio muito gratificante, muito bom, só tenho que agradecer ao Novorizontino por abrir essas portas. sou movido a desafio, e isso tem sido um desafio grande. Saí de onde tinha uma estabilidade, não quis me acomodar, vim para um dos campeonatos mais competitivos do país, tive coragem. Isso mostra que não estou pensando pequeno, quero desafios fortes.