“Garoto, você tem qualidade. Não fica triste porque um dia o Atlético-MG ainda vai comprar você”.
Carlos César ouviu isso de um treinador da equipe de base do seu time do coração ainda na infância, após ser reprovado em um teste. Mesmo que tenho sido só uma forma de consolar um menino decepcionado, o incentivo serviu como combustível para tudo aquilo que sua carreira viraria a seguir.Carlos César (ao meio) comemora seu gol pelo Atlético-MG

“Lembro que fiquei muito triste. Essa frase nunca saiu da minha cabeça, me arrepio só de me lembrar. Nove anos depois do que esse cara (que não lembro o nome) me disse, tudo virou verdade. É uma prova que não podemos desistir nunca dos nossos sonhos”, disse o lateral do Atlético-MG, ao ESPN.com.br.

Antes disso tudo acontecer, Carlos César passaria por muitas outras situações que o fizeram provar sua fé.

Nascido em Uberaba, Minas Gerais, ele desde cedo ajudava seus pais trabalhando como vendedor de picolé e coxinha pelas ruas da cidade. “Era uma forma de ter meu dinheirinho para comprar minhas coisas. Não era algo forçado, eu gostava de fazer. Trabalho é algo muito importante na minha vida e sempre recebi bons valores da minha família por conta disso”.

Além disso, ele ajudava seu irmão Júnior em uma serralheria. “Eu o auxiliava pegando as chapas de metal e as peças, mas ele que fazia o serviço mais pesado”.

Mesmo assim, seu sonho era estar dentro dos gramados. “Eu achei que as coisas não dariam certo depois de não passar em peneiras no Bahia, Vitória e no Atlético-MG, mas por incentivo da família não desisti”.

“Quando jogava pelo time da minha cidade eu conheci meu empresário que me levou para fazer um teste no Criciúma. Eu passei e fiquei por lá até o profissional. No começo sofri um pouco por causa da saudade da família e do clima, mas superei tudo isso”.

Depois de passar por Guarani e Rio Claro, Carlos ficou oito meses desempregado, em 2010. “Foi o momento mais difícil até aqui da minha carreira. Ficava o dia todo no interior em casa e as coisas não aconteciam. Treinava por conta, mas achei que poderia ser o fim”.

Um convite no final do ano feito pelo Guarani de Divinópolis-MG mudou tudo. Ele foi bem na equipe, foi jogar no Boa Esporte e fez a “profecia” do treinador se concretizar.

“Em menos de um ano saí de uma situação péssima para ser contratado pelo Atlético-MG. Realizei meu sonho de toda minha família”.

DE TERCEIRA OPÇÃO ATÉ TITULAR

Apesar de estar no time do coração, o lateral ainda demorou para conseguir arrumar seu espaço e pouco atuou nas primeiras temporadas. Mesmo assim, viveu grandes alegrias dentro do Atlético-MG.

Carlos Cesar, lateral do Atlético-MG
“Eu lembro que não acreditei quando fiquei sabendo que o Ronaldinho estava sendo contratado. Só acreditei mesmo quando o vi chegando na Cidade do Galo (risos). É um grande ídolo. Aproveitei cada momento que pude em estar ao lado dele, com aquela alegria e humildade, mesmo tendo ganho tudo que você pode imaginar no futebol. É algo que contarei para os meus filhos”.

Em 2013, ele estava no elenco que conquistou da Copa Libertadores da América diante do Olimpia nos pênaltis.

“Acabei me machucando no meio do campeonato. Mesmo assim, o Cuca não me cortou do elenco e recebi as medalha de campeão e comemorei de muletas no pódio (risos). Aquilo foi uma coisa maravilhosa, a festa que a torcida do Galo fez foi linda”.

No ano seguinte, Carlos foi emprestado ao Vasco e Atlético-PR. Em 2015 retornou, mas fez poucas partidas. No começo deste ano, ele era terceira opção de Diego Aguirre, atrás de Marcos Rocha e Patric.

Maxi Rodríguez, à direita, conduz a bola acompanhado por Carlos Cesar em treino do Vasco

“No começo deste ano quando fiquei fora da Florida Cup achei que seria emprestado de novo. Estava me preparando, mas disseram para mim que eu seria muito útil e que contavam comigo. Isso me animou demais a querer continuar. Não poderia ter tido uma escolha melhor”.

Com as lesões dos titulares, Carlos foi se firmando com boas atuações. Em 2016, já são 40 partidas pelo time e dois gols marcados.

“De terceira opção acabei virando o cara que mais jogou neste ano na posição. Nunca fiz tantos jogos pelo Atlético-MG. Estou muito feliz por tudo que esse ano proporcionou na minha vida”.

Provável titular no duelo contra o Internacional, pelas semifinais da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, ele quer ir mais longe.

“Sonho em um dia ser ídolo da torcida e ganhar mais títulos por aqui como a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. Temos um elenco excelente e condições totais de brigar por tudo que disputamos”.

O lema “eu acredito”, tão entoado pela torcida do Atlético-MG, não poderia ser tão bem usado como por seu representante que está dentro de campo.