O sonho de milhões de crianças ao redor do mundo é se tornar jogador de futebol. No Brasil, então, é raro encontrar quem nunca sonhou em calçar as chuteiras, dar um show nos gramados e ser reverenciado por uma torcida fanática. Atualmente, a criançada é ainda mais ambiciosa, e já se imagina com a camisa 10 do Barcelona, do Real Madrid ou de outros gigantes da Europa. No entanto, ainda existe quem quer ser ídolo do seu time de coração, algo muito comum antes dos anos 1990.
Carlos César, lateral-direito do Atlético-MG, foi uma dessas crianças. O mineiro do interior, da cidade de Uberaba, cresceu imaginando como seria vestir o manto alvinegro, e precisou superar inúmeros obstáculos para conseguir isso. Mesmo quando profissional, depois de empréstimos e idas e vindas, demorou para enfim, em 2016, ter uma sequência como titular do Galo após as lesões de Marcos Rocha e Patric e afastar a desconfiança da torcida.
No entanto, mais do que os desafios quando profissional, Carlos César precisou superar obstáculos duros quando ainda era um menino sonhador, inclusive uma desilusão que quase lhe fez desistir de ser jogador. Já imaginou como seria ter o sonho de defender o seu clube do coração, fazer um teste nele e ser rejeitado? O lateral-direito conhece essa dor.
“O meu pai é atleticano e eu tenho essa paixão muito grande pelo Atlético, que vem de família. Eu comecei a fazer testes com 13, 14 anos. Fiz testes no Bahia, no Vitória e no Atlético, mas não passei e não sabia nem se iria jogar futebol. Eu já tinha feito testes em três clubes e comecei a me questionar. Muita gente também falava que eu deveria desistir, porque não tinha passado em três clubes e não daria certo. Eu pensei em parar. Teve momentos que pensei que não conseguiria realizar o meu sonho”, revelou o jogador, em entrevista exclusiva à Goal Brasil.
Carlos César, no entanto, não desistiu. Com o apoio de sua família, ele seguiu em frente, superou as dificuldades e conseguiu uma chance no Criciúma, depois rodou por Rio Claro, Guarani e Boa Esporte antes de chegar ao clube do coração, o Atlético-MG, em 2011. Entre a reserva, ser terceira opção, emprestado e a titularidade, ele viveu bons momentos, se firmou em 2016 e sempre mostrou ser peça importante no elenco, conquistando três vezes o Campeonato Mineiro, além da Florida Cup e da histórica Libertadores, em 2013. No currículo, além dos títulos, parcerias impensáveis com Ronaldinho e Robinho, jogadores de fama mundial e currículos invejáveis.
“Eu era um menino de interior, de uma família que não tinha muitos recursos. Com dez anos eu já vendia coxinha e picolé com um amigo, e ficava alegre, porque eu ganhava R$ 1 ou R$ 2 e podia me divertir depois e comprar alguma coisa para comer. Depois de não passar em três testes, muita gente que não queria o meu bem me falou para desistir, que eu não conseguiria ser jogador. O que me ajudou foi minha família, meu pai e meus irmãos, que me ajudaram muito e disseram que eu tinha que ir até o fim atrás do meu sonho, porque eu era capaz e tinha talento. Isso me motivou e me fez dar certo”, contou.
As dificuldades e a superação para realizar o sonho inspiram Carlos César até hoje, e inclusive lhe dão forças para projetos depois de pendurar as chuteiras. “Eu tinha sonhos, mas a gente só acredita mesmo quando está no lugar, no Atlético, jogando com Ronaldinho e agora com o Robinho. Eu já fiz teste no Atlético quando menino, como te disse, não passei e não sabia nem se iria jogar futebol, quanto mais estar onde estou hoje. Por isso, eu aproveito cada momento como se fosse o último. Eu tenho essa paixão muito grande pelo Atlético, que vem de família. Então, poder jogar pelo Atlético e com jogadores como Ronaldinho, Robinho e Fred, que são grandes, de Seleção, de Copa do Mundo… Eu estava até contando pra minha esposa esses dias que já joguei com o Adriano também (no Atlético-PR). Hoje eu sou um cara realizado. Eu sonhei com isso, e tudo aconteceu. Isso me dá mais forças para seguir lutando por meus sonhos e objetivos”, afirmou.
“Hoje eu olho pra trás e vejo que superei essas dificuldades e sei que minha caminhada foi longa e dura, e que eu preciso sempre olhar pra frente e lutar e superar as adversidades, levantar a cabeça e seguir em frente, não deixar nada me abater. Eu tenho que olhar pra frente e saber que não acabou. Hoje eu tenho o sonho de voltar a estudar, concluir um curso superior, porque a nossa vida não pode parar por aqui. Penso em fazer gestão esportiva ou então gestão financeira”, revelou.
“Dentro de campo, quero conquistar o Campeonato Brasileiro com o Atlético, e um Mundial também. Fora de campo, eu sou muito tranquilo, gosto de sair pra jantar e assistir filmes com a minha esposa, e quando dá, vou visitar minha família no interior. Nós somos cristãos, então vamos muito à igreja, porque é lá que recebemos a sabedoria para conduzir a nossa vida e projetar um futuro. Estamos crescendo muito na fé e hoje, minha esposa busca a formação em nutrição, que é um sonho dela e eu a ajudo, mas ela teve que trancar o curso agora, porque nós vamos ter um filho. Vai ser uma nova fase na minha vida e estou gostando muito”, concluiu.
Alegrias no Galo
Carlos César nunca teve uma sequência tão grande e tranquila no Atlético-MG. Após ser contratado em 2011, o lateral-direito variou entre ser reserva e terceira opção na posição, sempre na sombra de Marcos Rocha, titular absoluto do setor. Em 2014, ele foi até emprestado para Atlético-PR e Vasco. No ano passado, com a volta de Patric, quase não atuou, mesmo quando Marcos Rocha estava fora, fato que se repetiu no começo da temporada atual.
Patric, no entanto, também se lesionou, e com o titular e o reserva fora, Carlos César enfim teve mais oportunidades. No início, parte da torcida pegou no seu pé e não tinha confiança nele, o que rapidamente mudou, com as atuações seguras do lateral, importante na defesa e eficiente no apoio ao ataque, inclusive com gols e assistências. A fase é boa, e o jogador celebra a sequência.
“Está sendo uma sequência muito boa. O rendimento bom que estou tendo é por causa da sequência e da confiança, e também da equipe, que está bem, brigando pelo título, o que contribui muito. Agora é continuar focado e quero fazer meu melhor e seguir aproveitando minhas oportunidades e ajudando o Atlético”, afirmou.
O Atlético-MG, apesar de alguns erros e altos e baixos nos últimos meses, segue na briga pelos títulos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil, estando cinco pontos atrás do líder Palmeiras no Brasileirão e nas quartas de final contra o Juventude no mata-mata. A pressão pelos títulos é enorme, já que o investimento financeiro foi alto com as contratações de nomes como Fred e Robinho e a manutenção de Lucas Pratto, Rafael Carioca e nomes importantes no elenco. O plantel alvinegro é um dos melhores, isso se não for o melhor do Brasil, mas ainda assim tem sofrido com erros defensivos, posicionamento tático equivocado e queda de rendimento no segundo tempo de algumas partidas. Tudo isso é reconhecido por Carlos César, mas o lateral garante o Galo na briga pelos troféus.
“Isso é verdade (queda de rendimento no segundo tempo). A gente tem conversado muito sobre isso, principalmente desde o jogo contra o Fluminense. É muito difícil você sair ganhando, então precisamos saber conduzir melhor o jogo para ampliar a vantagem ou ao menos segurar o placar e conseguir a vitória. Nós estamos conversando muito e tentando nos ajustar e ver o que está faltando para não sofrer pressão como estamos sofrendo e cedendo um empate ou então a virada, como aconteceu com o Fluminense. Estamos trabalhando e nos ajustando para fazer o melhor e ter mais consistência, principalmente no segundo tempo, para conseguirmos as vitórias”, prometeu.
“Sabemos que precisamos vencer os próximos jogos e a importância deles. Quanto mais difícil vai ficando, temos mais responsabilidade e precisamos aumentar ainda mais o nosso volume e ter mais foco e coragem para buscar as vitórias. Não perdemos o foco e nem desanimamos, temos mais vontade ainda, porque sabemos da importância dos próximos jogos. Temos um grande grupo e por isso estamos brigando pelos títulos. Precisamos nos fechar e nos cobrar mais ainda para podermos conquistar os títulos. Sabemos da pressão e da responsabilidade de carregar o nome do Atlético, mas estamos bem, focados e tranquilos e sabemos que precisamos conquistar algo grande”, garantiu.
A tranquilidade, de fato, é presente na Cidade do Galo, o CT atleticano. O clima entre jogadores e comissão técnica é leve e as brincadeiras sempre presentes no trabalho do dia a dia. O grupo realmente se dá bem, e Carlos César, especialmente, é um grande amigo de Robinho, conhecido por gostar de uma zoeira. Pior para Lucas Pratto, que após ser convocado para a Argentina, precisou conviver com as galhofas dos companheiros.
“O Robinho chegou e a gente se identificou muito, porque eu gosto muito de brincar e ele mais ainda. Ele é um jogador maduro, que já fez parte de grandes equipes no futebol brasileiro e europeu, e com a alegria dele, ele contagia todo mundo. Estamos criando uma amizade muito bacana e estou aprendendo muito com ele, que é muito humilde. Ele faz muito bem pro grupo. A gente conversa muita coisa, concentra junto, brinca. Ele adora botar apelido, mas eu não posso falar, se não o pessoal vai ficar me zoando e os caras me matam (risos)”, contou.
“Uma brincadeira que fizemos foi com o Pratto. A gente pega muito no pé dele (risos). Falamos que se ele voltasse da seleção argentina sem marcar gol, ele poderia parar, porque se ele não fizesse gol jogando com o Messi, que é o melhor do mundo, ele não ia fazer gol com mais ninguém (risos)”, revelou.